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A elaboração de um arquivo

A elaboração de um arquivo tem se revelado uma maneira bastante inspiradora de colecionar material com potência de transformação. Como disse Tamara num desses dias, “acho que tenho material para criar peças durante dois anos”.Estamos numa fase onde já conseguimos visualizar o montante reunido pelo arquivo e suas subdivisões. Isso permite que se tenha vontade de adicionar mais dados/exemplares às séries existentes ou até mesmo refazer algumas. Neste momento, também temos uma consciência maior de quanto falta para que algumas séries descortinem sua relevância de forma mais clara.Hoje, especificamente, começamos a investigar, fuçar mesmo, o arquivo em sua totalidade. Ou seja, nossas séries e as produzidas pelos outros grupos. O objetivo é elaborar imagens, combinações aleatórias de informações presentes no arquivo a partir de 3 parâmetros: intervenção, combinação e narração.A intervenção consiste em propor alguma alteração na série. Uma possibilidade de alteração é via tradução, ou seja, realizando uma leitura da série escolhida num formato diferente do original. A combinação é simplesmente colocar duas ou mais séries acontecendo ao mesmo tempo, no mesmo espaço. Já a narração consiste em criar um discurso a partir da combinação de uma ou mais séries.Tudo isso deve ser feito sem muito compromisso de criar obras, idéias, segundo Tamara. Essa seria uma fase potencializadora de insights a partir do que temos arquivado.(…)Paralelamente, sigo desenvolvendo algumas ferramentas e produzindo material em meus ensaios na Galeria do Centro Coreográfico. A desentrevista teve um desdobramento em vídeo na própria residência da Tamara (clique aqui para ver o vídeo), mas continuo fazendo a versão em texto.Criei essa ferramenta com o objetivo de subverter a estrutura padrão de uma entrevista. Parto de uma “afirmativa duvidosa” sobre mim mesmo a partir da qual derivo uma série de perguntas (geralmente limito a três perguntas). No vídeo, realizado em parceria com Astrid Toledo, Marcus Azevedo, Damares D’Arc, Stela Guz e Aluisio Flores, a afirmativa duvidosa e as perguntas eram escritas em pedaços de papel e postas em minha boca sucessivamente. Gosto da provocação que o vídeo faz na medida em que as perguntas e afirmativa não saem da boca, mas sim entram. Fico pensando que isso pode sugerir uma metáfora de internalização das perguntas (e posterior digestão?).O conceito de série trazido pela Tamara me inspirou a criar Aquisições. Nesta série, faço uma lista de tudo o que venho comprando, adquirindo ao longo de um mês. Comecei fotografando, mas acabou não dando certo, pois esquecia e acabava jogando fora os pacotes e embalagens por acidente. Depois de alguns dias, assumi o formato texto inspirado por Bauman: A “subjetividade” dos consumidores é feita de opções de compra (…) sua descrição adquire a forma de uma lista de compras.
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