e vc como esta? tudo bem?
Eu estou bem graças aos deuses. E agradeço pelo comentario, valeu!!!
Bem e as referencias estão espalhadas pelo mundo em tempo de "crise", né?
Abs,
Ricardo
Recebi o convite para participar do evento que você está fazendo em Berlim chamado “Dance for Sale” e ele me lembra, com referencias de nome, conceito e imagem, o trabalho de Fernanda Bevilaqua junto à Cia. Uai Q Dança (“Venda”), que tem viajado por alguns estados do Brasil e Festivais como FID (Fórum Internacional de Dança) e ENARTCi 2008 (nesse último, Wagner Carvalho acompanhou e fez algumas considerações importantes sobre o trabalho de Fernanda).
Como estamos vivendo uma época de apropriação seja de ideias ou de qualquer outra forma de conhecimento, seria legal que você entrasse em contato com Fernanda, para conversarem sobre como anda esse seu processo de trabalho em Berlim, que é uma extensão do que já tem sido feito no Brasil. Talvez as políticas que envolvam a depreciação da cultura, sendo as mesmas em ambos espaços, possam agregar valores e a formação de pares para, numa ideia de comum, modificarem o que é possível dessas imposturas.
Há décadas sabemos todos que a criação cênica interfere de maneira decisiva na produção audiovisual. Só que, geralmente, pensamos essa interferência em escala industrial: best-sellers se tornam blockbusters, a indústria cinematográfica fica de olho no mercado editorial para antecipar tendências e comprar, a preços baixos, os direitos de obras que sinalizam possibilidade de sucesso junto ao grande público. Mas nem sempre é assim. A interferência também ocorre em escala menor, numa mesma comunidade, até mesmo no interior.
É o que acaba de ocorrer em Uberlândia, onde dois grupos cênicos decidiram expandir suas atividades e invadir as telas: o Grupontapé, de teatro, lançou, no final do ano passado, Asas ao redor de mim, e a Uai q dança vem apresentando Dança a R$ 1,00 em escolas da cidade. A trajetória de Asas ao redor de mim começou há anos, com a encenação, pelo Grupontapé, do monólogo de mesmo nome escrito por Irley Machado.
O trabalho se tornou uma espécie de marca registrada da atriz Kátia Bizzinotto, expandiu se rumo à intervenção urbana e, finalmente, foi transformado em filme dirigido por Marcial Rezende e Murilo Azevedo. Dança a R$ 1,00, de Ricardo Alvarenga, é um documentário que registra momentos da ação que a Uai q dança vem realizando há cerca de dois anos – levar dança, a preços populares, a espaços públicos onde usualmente são comercializados outros bens, ao mesmo tempo em que investiga as relações econômicas inerentes à produção artística e o comportamento de um público geralmente fora dos mercados de arte.
As duas obras respondem, de maneiras distintas, à questão da autonomia das linguagens audiovisuais frente à criação cênica – armadilha onde caem boa parte das adaptações de peças de teatro para o cinema, que ficam parecendo teatro filmado. Asas ao redor de mim, como monólogo, se dá ao luxo de concentrar a atenção em uma única personagem – Maria, moradora de rua, o equivalente ao “idiota da aldeia” na literatura russa, aquela figura completamente lúcida em sua completa inadequação ao mundo que a cerca. Depois de anos interpretando a personagem, Kátia Bizzinotto adquiriu tal intimidade com ela que a criatura tornou-se uma segunda pele, produzindo completa impressão de verdade apesar de sua construção pouco naturalista.
Se o Grupontapé houvesse apenas registrado o monólogo, teríamos teatro filmado – ainda que de qualidade. Contudo, o tratamento que foi dado, da materialização de personagens que poderiam contracenar com Maria até suas andanças por ruas, becos e terrenos vazios de Uberlândia, transformou Asas ao redor de mim em cinema verdadeiro. No processo, oferece ao espectador, além da tragicômica trajetória da personagem, poderosa crônica sobre espaço urbano, exclusão social, solidão, preconceito e solidariedade.
Dança a R$ 1,00, por sua vez, recusa-se a ser documentário bem comportado. Parece, antes, aparentado ao clipe, com cortes ágeis, conteúdos apenas insinuados, recusa em apresentar começo, meio e fim encadeados dentro da lógica clássica. É filme que se presta a seu objetivo: como parte da ação proposta pela Uai q dança, a companhia vem visitando escolas nas comunidades, mostrando o filme e conversando com a garotada – ou seja, lida com público capaz de preencher, por experiência própria, os interstícios do filme. Para quem nunca assistiu à ação, contudo, Dança a R$ 1,00 também fará sentido, só que diferente: uma provocação ao questionamento do que sabemos sobre arte e consumo, construída não apenas de dança e depoimentos sobre ela, mas de imagens do cotidiano e opiniões de pessoas comuns, que muitas vezes nos apresentam visões mais convincentes que muita teoria que circula por aí.
matéria publicada pelo Jornal Estado de Minas em 31 de Janeiro de 2010.
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e vc como esta? tudo bem?
Eu estou bem graças aos deuses. E agradeço pelo comentario, valeu!!!
Bem e as referencias estão espalhadas pelo mundo em tempo de "crise", né?
Abs,
Ricardo
Recebi o convite para participar do evento que você está fazendo em Berlim chamado “Dance for Sale” e ele me lembra, com referencias de nome, conceito e imagem, o trabalho de Fernanda Bevilaqua junto à Cia. Uai Q Dança (“Venda”), que tem viajado por alguns estados do Brasil e Festivais como FID (Fórum Internacional de Dança) e ENARTCi 2008 (nesse último, Wagner Carvalho acompanhou e fez algumas considerações importantes sobre o trabalho de Fernanda).
Como estamos vivendo uma época de apropriação seja de ideias ou de qualquer outra forma de conhecimento, seria legal que você entrasse em contato com Fernanda, para conversarem sobre como anda esse seu processo de trabalho em Berlim, que é uma extensão do que já tem sido feito no Brasil. Talvez as políticas que envolvam a depreciação da cultura, sendo as mesmas em ambos espaços, possam agregar valores e a formação de pares para, numa ideia de comum, modificarem o que é possível dessas imposturas.
Um abraço,
Wagner Schwartz
ps 1. para ver o trabalho da cia. basta clicar:
http://movimientolaredsd.ning.com/profile/FernandaBevilaqua?xg_sour...
ps 2. a crítica do marcello avelar segue abaixo também, dividida em 3 partes.
MARCELLO CASTILHO AVELLAR
Jornal Estado de Minas
Há décadas sabemos todos que a criação cênica interfere de maneira decisiva na produção audiovisual. Só que, geralmente, pensamos essa interferência em escala industrial: best-sellers se tornam blockbusters, a indústria cinematográfica fica de olho no mercado editorial para antecipar tendências e comprar, a preços baixos, os direitos de obras que sinalizam possibilidade de sucesso junto ao grande público. Mas nem sempre é assim. A interferência também ocorre em escala menor, numa mesma comunidade, até mesmo no interior.
É o que acaba de ocorrer em Uberlândia, onde dois grupos cênicos decidiram expandir suas atividades e invadir as telas: o Grupontapé, de teatro, lançou, no final do ano passado, Asas ao redor de mim, e a Uai q dança vem apresentando Dança a R$ 1,00 em escolas da cidade. A trajetória de Asas ao redor de mim começou há anos, com a encenação, pelo Grupontapé, do monólogo de mesmo nome escrito por Irley Machado.
O trabalho se tornou uma espécie de marca registrada da atriz Kátia Bizzinotto, expandiu se rumo à intervenção urbana e, finalmente, foi transformado em filme dirigido por Marcial Rezende e Murilo Azevedo. Dança a R$ 1,00, de Ricardo Alvarenga, é um documentário que registra momentos da ação que a Uai q dança vem realizando há cerca de dois anos – levar dança, a preços populares, a espaços públicos onde usualmente são comercializados outros bens, ao mesmo tempo em que investiga as relações econômicas inerentes à produção artística e o comportamento de um público geralmente fora dos mercados de arte.
As duas obras respondem, de maneiras distintas, à questão da autonomia das linguagens audiovisuais frente à criação cênica – armadilha onde caem boa parte das adaptações de peças de teatro para o cinema, que ficam parecendo teatro filmado. Asas ao redor de mim, como monólogo, se dá ao luxo de concentrar a atenção em uma única personagem – Maria, moradora de rua, o equivalente ao “idiota da aldeia” na literatura russa, aquela figura completamente lúcida em sua completa inadequação ao mundo que a cerca. Depois de anos interpretando a personagem, Kátia Bizzinotto adquiriu tal intimidade com ela que a criatura tornou-se uma segunda pele, produzindo completa impressão de verdade apesar de sua construção pouco naturalista.
Se o Grupontapé houvesse apenas registrado o monólogo, teríamos teatro filmado – ainda que de qualidade. Contudo, o tratamento que foi dado, da materialização de personagens que poderiam contracenar com Maria até suas andanças por ruas, becos e terrenos vazios de Uberlândia, transformou Asas ao redor de mim em cinema verdadeiro. No processo, oferece ao espectador, além da tragicômica trajetória da personagem, poderosa crônica sobre espaço urbano, exclusão social, solidão, preconceito e solidariedade.
Dança a R$ 1,00, por sua vez, recusa-se a ser documentário bem comportado. Parece, antes, aparentado ao clipe, com cortes ágeis, conteúdos apenas insinuados, recusa em apresentar começo, meio e fim encadeados dentro da lógica clássica. É filme que se presta a seu objetivo: como parte da ação proposta pela Uai q dança, a companhia vem visitando escolas nas comunidades, mostrando o filme e conversando com a garotada – ou seja, lida com público capaz de preencher, por experiência própria, os interstícios do filme. Para quem nunca assistiu à ação, contudo, Dança a R$ 1,00 também fará sentido, só que diferente: uma provocação ao questionamento do que sabemos sobre arte e consumo, construída não apenas de dança e depoimentos sobre ela, mas de imagens do cotidiano e opiniões de pessoas comuns, que muitas vezes nos apresentam visões mais convincentes que muita teoria que circula por aí.
matéria publicada pelo Jornal Estado de Minas em 31 de Janeiro de 2010.
http://jesus-alegria.blogspot.com
un abrazo
abração , m