Publicado por Filipe Viegas el 17 de Noviembre de 2009 a las 12:05am
Depois de descobrir alguns duelos entre bailarinos de hip hop via youtube, os artistas Filipe Viegas (português) e Brahim Sourny (marroquino) tiveram o click: por que não fazer o mesmo com a dança contemporânea? E foi de uma idéia simples assim que nasceu o Move out loud (MOL), uma coreografia contínua e ininterrupta, que está atravessando o mundo, ultrapassando fronteiras de língua e cultura e colocando a comunidade de dança mundial em rede.A idéia ficou adormecida por um tempo até que, no fim de 2007, Filipe foi contactado pela European Cultural Foundation, que ficou interessada na iniciativa. A partir daí, a dupla colocou o MOL em prática através da plataforma www.rhiz.eu. O projeto também tem apoio do coletivo Bomba Suicida – da qual Filipe faz parte -, e da Cie 11.org, de Brahim.Para participar, é bem simples. Primeiro, o interessado contribuir com nessa interminável “cadeia coreográfica” se registrar no site rhiz.eu, que hospeda o MOL. Em seguida, é preciso deixar um comentário para a equipe do projeto falando do interesse em participar. Quando a resposta chegar, a pessoa tem três dias para assistir ao vídeo anterior, elaborar o seu e enviá-lo para o Move out loud. Caso não o faça nesse período, o próximo da fila será contactado. Fila essa que atualmente possui cinco pessoas.Abaixo, leia a entrevista que o idança fez com Filipe, via e-mail, para saber como foi a recepção ao projeto na Europa, quais eram as expectativas da dupla antes de colocar o MOL em prática e quais são os planos para o futuro dessa cadeia.Como surgiu a idéia de criar uma cadeia coreográfica sem fim? Como foi oprocesso para colocar essa idéia em prática? Quando o projeto começouoficialmente?A ideia de criar coreografia sem fim na internet partiu de uma conversa que eu e o coreógrafo marroquino Brahim Sourny estavamos a ter em Instanbul sobre o facto de alguns bailarinos de Hip-hop utilizarem o youtube para fazerem duelos de dança entre uns e outros. Rapidamente pensámos em fazer algo semelhante com a dança contemporânea. Mas logo nos pareceu mais interessante que não fosse um diálogo, mas sim uma frase continua que atravessase o mundo e acessível a toda a gente que conseguisse aceder à tecnologia. Como tanto um como o outro dirigimos estruturas para além do nosso trabalho artístico – eu, a Bomba Suicida e o Brahim, a Cie 11.org – , durante meses a ideia apenas ficou uma ideia. Só perto do Natal de 2007 fui contactado pela European Cultural Foundation, que soube do projecto, para pôr a ideia em prática através da sua plataforma www.rhiz.eu. A Bomba Suicida começou então a produção do projecto e foi convidada a fazer a apresentação oficial no Festival Alkantara em Lisboa, e este lançamento incluia trabalhar com os artistas presentes no festival fazendo com eles os primeiros videos para a plataforma. Isto aconteceu a 8 de Junho, exactamente 1 ano depois de termos tido a ideia, que simbolicamente foi muito bonito.Assista abaixo ao primeiro vídeo produzido (o MOL#1), uma compilação de movimentos gravados em Porto Alegre, Paris, Praga, Casablanca, Lisboa, Congo, Porto, Bruxelas e Sidney.Como esse projeto foi recebido por quem trabalha com dança na Europa?Neste momento estamos na fase de divulgação e em primeiro lugar estamos a aproveitar a plataforma rhiz.eu para divulgar aos seus utilizadores. Ainda estamos no inicio e por isso ainda não é possível termos um feed-back real, se bem que toda a gente se apaixona pela ideia, que tem um cariz universalista e democrático.Quantas pessoas estão na lista de espera para participar do MOL atualmente?Neste momento, e como disse estamos no início, ainda só temos 5 pessoas em lista de espera, mas por exemplo a primeira “participação espontânea”, foi exactamente vinda de São Paulo com a bailarina Joana Ferraz (clique aqui para assistir ao vídeo).O projeto já está em andamento, está sendo como vocês esperavam? Houvealguma surpresa (para o bem ou para o mal)?O Move Out Loud é também uma experiência nova para a plataforma rhiz.eu e por isso esta primeira participação expontânea teve um pequeno problema tecnológico que está a ser resolvido… Como diz a minha amiga Madunna (uma Diva do drag queen Lisboeta) “We Love Technology… but Technology doesn’t love us!”.Vocês fazem algum tipo de seleção do material produzido pelas pessoas? Há algum tipo de restrição do que entra na cadeia?O ponto de partida é a dança contemporânea e propomos que seja um solo. Mas felizmente as regras já foram quebradas. Digo felizmente porque para nós a riqueza do projecto está também em sermos surpreendidos com as contribuições e já existiram artistas que fizeram videos com 2 pessoas e não foram apenas bailarinos ou coreógrafos que participaram, mas também produtores. Ou seja, o que nos interessa é que quem sinta o impulso de participar, que o faça… A única restrição é que a cadeia não seja desvirtuada e a passagem de um vídeo para o outro seja claramente uma passagem .Entre os vídeos que já estão participando da cadeia, tem algum de que vocês gostem mais? Ou que tenham achado mais interessante?É importante que neste género de projecto não haja uma atitude de julgamento, pois seria pretencioso. Mas um que a mim me toca especialmente é o vídeo número 20 onde o meu companheiro de piso me convidou a participar. Aí tive a oportunidade de sentir esse momento especial em casa a decidir o que fazer e onde o filmar. Jaime Conde-Salazar, um teórico das artes do corpo espanhol que convidámos a participar neste projecto colocou muito bem no seu texto: “… Para começar, estamos perante um facto que ocorre num espaço privado e íntimo. Isto quer dizer que, ainda que em certas ocasiões possa haver outras pessoas presentes, a cerimónia tem sempre sua origem no desejo individual da pessoa que põe em marcha o processo. Por assim dizer, só há um MOL possível para cada pessoa, aquele que atende e responde a seu próprio desejo. Por isso, o espaço é o que habita o sujeito em solidão (um quarto, o estudio… mas também o aeroporto, o café, uma praia…). Não há teatro que valha: não há convenção, não há tempo estabelecido, não há comportamentos colectivos consensuais. Existe somente o espectador rodeado da sua solidão, entregue ao seu próprio fluxo de desejo que nunca terá uma resposta directa, que jamais será projectado noutro corpo vivente, mas que, no entanto, é motivo suficiente para desenrolar todo este processo.” Esta experiência de participar no projecto é sem dúvida uma experiência individual e especial. Como os vídeos são muito diferentes, este projecto é também especial para quem os visiona, pois uma pessoa pode não gostar de um vídeo, mas logo se identifica com o seguinte, e vice-versa para outro utilizador que vê o material.Como você já destacou, há participação brasileira no projeto. O que você destaca da dança contemporânea brasileira?Neste momento temos duas participantes do Brasil. A já referida Joana Ferraz mas também Karenina De Los Santos que estava em Lisboa durante o Festival Alkantara e é o nosso segundo vídeo. O projecto tem uma estratégia de divulgação geográfica a 4 anos e pensamos fazer a divulgação específica para a América do Sul para o ano que vem. Mas como é um projecto na internet e acessivel a toda a gente com acesso à internet esperamos também que a divulgação seja feita pelos utilizadores. Desde já aproveito a convidar os leitores do idanca.net a descobrir o projecto e participar em MOL. Todas as intrucções estão já disponíveis em português. Da dança contemporânea brasileira o caso que conheço melhor é o criador Cristian Duarte , que a Bomba Suicida já teve a oportunidade de proporcionar uma residência em Lisboa. mas conheço também o trabalho do Bruno Beltrao , o festival panaroma (nao pessoalmente, mas o Luis Guerra e a Tânia Carvalho já apresentaram trabalho neste Festival) e o colectivo Couve Flor.Vocês têm alguma idéia de qual será o futuro do MOL? Sabem o que querem fazer com essa enorme cadeia, um filme único talvez?As possíveis abordagens a este projecto são imensas. Um filme único e com todas as coreografias é apenas uma das hipoteses. Gostávamos de fazer no futuro um documentário que demosntrasse as várias diferenças e semelhanças entre artistas nos cinco continentes. Partir das suas participações no projecto, mas mostrar o que não se vê na net: as condições de trabalho, as preocupações artísticas e/ou sociais, etc.O MOL só é possível porque vivemos num mundo conectado via Internet. O que você pensa da tecnologia a serviço da dança?Desde que apareceu o youtube que a Bomba Suicida o tem utilizado para divulgar os seus projectos. Apesar do vídeo ser insuficiente para passar uma arte do palco, pelo menos serve para que as pessoas conheçam algo que não conheciam antes. Os espectáculos multi media que usam a tecnologia e a dança são, na minha opinião, ainda um pouco ingénuos, mas sem dúvida interessantes. Mas na verdade não existe maior tecnologia do que a máquina humana e a relação entre uns e outros.www.moveoutloud.netCreative Commons LicenseA Dança ligada por uma corrente sem fim by Isabella Motta is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.http://idanca.net/lang/pt-br/2008/08/07/6832/
Comentarios