Publicado por Gerson Moreno el 31 de Agosto de 2009 a las 4:17pm
Emerge na história a vital necessidade nos homens e mulheres, bailarinos e não-bailarinos, de expressar pelo fluxo dos ossos e músculos os primitivos e vigentes bailados, não importa se “livres” ou “adestrados”. Dançar em meados do 3º Milênio significa em tese romper com o que está posto e ao mesmo tempo acolher códigos técnicos outrora formulados. A ânsia da contemporaneidade é exatamente plastificar “harmonias estéticas” a partir da diversidade de possibilidades técnicas e conceituais, tendo em vista a qualidade argumentativa do que se propõe concretizar no espaço do corpo e extra-corpo.Vivenciamos o início de novos paradigmas, rastejamos em cibernéticas relações sociais que tendem a imobilizar o corpo histórico. É preciso optar por uma dança que se configure na preservação de sua matéria prima: o movimento. Antes disso: corpo. Antes: emoção. Antes do antes: vivências simples como ler um livro de verdade, comer comida de verdade, sair de casa para passear (de verdade), tomar banho de chuva. Essas ações parecem utópicas aos olhos da criança que habita apartamentos. Há poucos anos atrás essas ações eram atos cotidianos e gratuitos. Isadora, Martha e Laban estavam atentos não à dança em si, mas ao contexto que inevitavelmente exigia respostas de todos, inclusive de quem optava em ser artista do movimento. Respostas sempre são dadas sabiamente por quem busca antes de tudo aprofundar perguntas, e são muitas as indagações lançadas pelo contexto atual para que novas ou antigas respostas sejam dadas, não importa se algumas palavras se repitam nas frases dessas respostas, o importante é que haja respostas. Não importa se a dança contemporânea ainda esteja se utilizando da secular técnica clássica ou preferiu negar tudo. O que será decisivo é a possibilidade de fascinar pela plastificação de verdades fundamentadas e além de tudo universais; verdades nutridas do que possa ser comum a todos os olhos... Emoção, sonho, anseio, esperança, conflito... Poéticas cênicas que habitam e pra sempre morarão na história humana. Elas se tornaram condições necessárias para a fruição e composição de uma dança contemporânea simples, porém expressiva em sua essência e plástica; verdadeiramente obra de arte a ser compartilhada com todo e qualquer tipo de público, até mesmo com navegadores obsessivos por teclados de computadores. Em questão reflexiva está à existência do movimento corporal na dança, o fenômeno em torno da diversidade de maneiras que esse movimento adota enquanto manifestação que nasce de um corpo cênico com finalidades objetivas, subjetivas, súbitas ou projetadas. Em se tratando da opção por uma dança orgânica, que em seu conceito e concretude beire entre o técnico e o intuitivo, o movimento corporal passa a ser prioridade absoluta no processo de construção da plástica que conceberá o todo coreográfico. Esse movimento tende a ser mecânico ou extremamente fluido, dependendo da maneira que é idealizado e concebido pelo corpo criador, a começar pela preparação técnica, em seguida pelas experimentações desenvolvidas em aula. Ser “natural” na dança implica em oferecer ao corpo possibilidades codificadas de desenvolver movimento para posteriormente iniciar um novo processo: se desfazer dos excessos, despojando-se de clichês e caricaturas que trazem à tona padronizações de corpos e bailados. Não existe “dança livre” ou “naturalista” no que se refere às significações literárias desses termos, haja vista que o corpo deixa de ser imaculado logo que sai do ventre da mãe e que no decorrer das fases da vida se corrompe a cada contato novo com o espaço através dos sentidos. Coreografando pessoas que nunca tiveram experiência técnica em dança, percebe-se corpos que trazem acervos de gestos e movimentos codificados (consciente ou inconscientemente) no cotidiano vivido, e que esses códigos corporais por mais simples ou limitados que sejam, apresentam substâncias “impuras” no sentido de que passaram por repetições anteriores geradoras de adestrações físicas capazes de sob direção coreográfica tornarem-se expressivas, cênicas e apresentáveis. A pureza corporal inexiste no ato criador do movimento, no entanto é possível suscitar verdade orgânicas no corpo através de experimentações que criem estados de simplicidade expressiva, tendo como ponto de partida o aproveitamento das fragilidades poéticas e universais residentes em todos os corpos, dos mais fortes aos mais fracos, dos mais belos aos mais “feios”. O verbo “aproveitar” entra nesse processo como didática sensível do professor-facilitador de dança ou do coreógrafo, agentes responsáveis pelo acompanhamento sistemático de corpos que se colocam a mercê de seus comandos, corpos quase sempre entregues e generosos às propostas de vivência. O olhar atento e detalhista do facilitador em dança para com os corpos assistidos deve ser direcionado, sobretudo às potencias naturais que se apresentam (mesmo sem querer) nas reações intuitivas dos mesmos. O que costuma falar mais alto é sempre o gesto que não grita para chamar atenção, e que pelo contrário silencia, cala em meio a turbilhões de saltos e piruetas bem dadas, e dessa maneira se comunica, chega ao alcance das pessoas, do grande público que nem sempre assiste dança no intuito de vibrar com movimentos acrobáticos. No entanto, se o bailarino se apossou desse movimento acrobático como extensão de si e não como um mero código pertencente à outra pessoa (no caso o coreógrafo), acaba atingindo o olhar e a emoção do histórico público, que por mais leigo que seja sempre teve e terá percepção seletiva e aguçada do que de fato tem ou não qualidade. Aproveitar o que esse corpo traz de técnico, de espontâneo, singular, exótico, inacabado, grotesco, absurdo, simples... Somar essas potências, descobrir e investir no que mais se expressa enquanto capacidade física para a cena, exemplo: possibilidades acrobáticas, flexibilidade, força, teatralidade, dentre outras. A fusão dessas possibilidades e a escolha de uma delas para se tornar a base fundamental das demais garantirão o desenvolvimento de bailarinos que criem e interpretem com organicidade-cênica, verdade físico-poética e estética do “incompleto”; tendências que sintetizam anseios contemporâneos dos artistas-pesquisadores e experimentalistas. Por mais que esses bailarinos sejam ecléticos tecnicamente falando, sempre se manifestarão neles algo de “melhor” que estamparão as características específicas e singulares de suas performances. Cabe ao professor e ao coreógrafo ter essa visão atenta para que melhor possa contribuir com o processo de formação continuada dos bailarinos e alunos de dança. A partir dessas reflexões configurou-se a proposta de Residência “Protagonismo na Dança” idealizada por Gerson Moreno, coreógrafo, intérprete-criador, professor de dança e pedagogo da cidade de Itapipoca-CE. Depois de 20 Anos de atuação enquanto artista do corpo e enquanto educador em arte, Gerson se dispõe a compartilhar com a comunidade dançante de suas descobertas, construções e inquietudes.
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