lourenço (1)

IMG_0027-300x225.jpgComo muitos já devem saber, a programação da nossa ocupação prevê para toda quarta feira, um noite de debates cujos formatos e temas variam, mas o propósito se mantem: Estreitar a relação entre os artistas e o público,  bem como situar suas obras em contextos sociais, culturais, educatcionais, enfim, no mundo.

Nesta última quarta feira, dia 25 de abril de 2012, Kleber Lourenço estreiou este ciclo de conversas no Teatro Cacilda Becker.

Nosso residente da semana e alguns integrantes da Rede de Novos Coreógrafos Negros de Dança Contemporânea do Rio de Janeiro como André Bern, Monica da Costa, Morena Paiva, Vitor D’Olive, Italmar Vasconcelos e  Diego Dantas, conduziram uma noite de discussões sobre os lugares ocupados por artistas negros (as) brasileiros (as) e pelas danças negras na dança contemporânea brasileira.

Coincidentemente  ontem mesmo, o Supremo Tribunal Federal (STF) passou por uma das etapas do julgamento sobre a constitucionalidade das cotas raciais para ingresso nas universidades públicas. Esta é uma pauta antiga dos movimentos sociais e sobretudo dos movimentos negros, que passa por mais uma etapa de sua luta.

Encontros à parte,  ambas demandas parecem estar sintonizadas em um mesmo movimento, o de dar melhores tratamentos e condições para a população de afro-descendentes deste país.

O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, o ibase, em 2008, publicou uma cartilha chamada:“Cotas raciais Porque Sim?” que explica de forma bastante didática o porque da necessidade de desevolvermos em nosso país um sistema que permita maior acessibilidade às universidades via cotas que tenham como critério características raciais.  Citando a cartilha:

“Indicadores sobre a desigualdade social no Brasil evidenciam o que o movimento negro denuncia há décadas: a existência de mecanismos de discriminação racial na sociedade brasileira que colocam em xeque o modelo de democracia racial.”

Esta passagem muito se assemelha à uma das atestações presentes na carta de  Apresentação da Rede de Coreógrafos Negros de Dança Contemporânea , como demonstrado a seguir:

“A população negra já soma mais da metade da população brasileira. As danças e a identidade negra são inspirações para inúmeros artistas contemporâneos. O número de estudantes negros de dança nos cursos técnicos e universitários é crescente. E, contraditoriamente, os espaços ocupados por novos/as artistas negros/as no mercado de dança em comparação com artistas não-negros ainda é bastante irrisório e passa por uma série de pré-conceitos e desigualdades.”

Percebemos que a questão da democracia racial não é um debate setorizado, mas cada setor tem suas operações e suas formas de lidar com ela.

O Dança Pra Cacilda está comprometido em discutir a questão e quem sabe propor encaminhamentos que possam ser levados à diante, em busca de uma mudança substancial no cenário da inclusão racial também no âmbito da dança!

É com esse intuito que foi pensado o Políticas do Corpo de hoje, e pelo visto estamos bem sintonizados com as políticas referentes à questão racial, de uma forma geral!

No âmbito da dança,  tanto a Rede quanto Kleber levantaram a questão de como uma forte tradição eurocêntrica opera em suas formações. Um exemplo recorrente foi  a atestação de que danças brasileiras ous danças de matrizes africanas não são estudadas como matrizes, e sim como desdobramentos.  Não compõem o quadro de disciplinas fundamentais, como a dança clássica,  muito embora seus movimentos demandem estudos, e deles decorram outras linguagens possíveis.

Neste aspecto , deixam claro que ambos poderiam receber o tratamento de “clássicos” , mas  ”tradição” apenas é reconhecida, no senso comum, quando refere-se à Europa.Tal dimensão, referente à forma como a dança de matriz africana é tratada, reverbera diretamente na maneira como artistas negras e negros se inserem no âmbito da dança.

Uma das reinvidicações levantadas pela Rede no que tange à inserção de negras  e negros no universo da Dança Contemporânea é unica,  mas não simplesmente, pelo direito de existir. Circular com arte negra, danças africanas tradicionais, bem como atuar enquanto bailarinos clássicos, ou quaisquer outras vertentes possíveis da dança é o grande objetivo do grupo. Mais do que reinvidincar uma “identidade negra” , buscam por uma representatividade que, minimamente, faça jus ao número de profissionais negr@s que existem no meio, e que não aparecem, nem tampouco são mencionados.

Muito embora não vinculem a questão de suas pautas às das cotas raciais,  parece que tais assuntos poderiam e deveriam dialogar mais. A cota racial, diferentemente da cota social, diz respeito à maior inserção de negr@s nas universidades, pelos mesmos métodos que todos entram. Não se trata de um vestibular especial mas de políticas afirmativas que garantam maior acesso e maior justiça racial neste processo seletivo.

A Rede ainda é bem nova e está a pensar  formas  e estratégias para  aumentar o acesso de profissionais negras e negros no cenário da dança contemporânea. Por isso, caso alguém já participe de iniciativas semelhantes, ou tenham idéias para contribuir, entrem em contato com a galera da rede ou com o grupo que faz a página doCtrl+Alt+Dança, no Facebook.

Monica Costa também disponibilizou seu email: nicacosta9@hotmail.com

Não podemos aqui relatar tudo o que aconteceu na noite de ontem. Essa foi apenas uma pincelada dos vários assuntos debatidos!

Em breve disponibilizaremos na nossa página do Vímeo, a conversa na íntegra!

Caso você tenha participado e quiser mandar sua relatoria e/ ou impressões sobre a noite, fique à vontade, e escreva para Bia Paes:

comunicacao.cacilda@panoramafestival.com

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