co-criação (2)

Copenhagen (parte 1)

Acabei de recorrer à uma balinha de hyldeblomst para escrever esse post. São dois os motivos que tornam difícil essa escrita hoje: cheguei há quase duas semanas e ainda sinto que “estou chegando”; passei um mês sem me dedicar à minha pesquisa pessoal, ainda que tenha feito mil conexões com ela durante esse tempo. Será que há outros? Mais um: foi minha primeira viagem ao exterior. A balinha começa a fazer efeito, acho. Começar do início: em julho, Vera (Maeder), que conheci numa residência do Festival Panorama no ano passado, me escreveu um e-mail. Era um convite para integrar um grupo de criadores locais para desenvolver um passo adiante em relação ao que havíamos apresentado juntos no Festival. Ainda faltavam confirmações financeiras para que eles pudessem bancar minha ida, mas ali estava a proposta. Sim, claro que aceitei. Um tanto descrente, um pouco desapegado, não quis me planejar enquanto não houvesse a tal confirmação. Na última semana de julho, mais um e-mail. “Venha. Está tudo certo!” Loucura. Correria. Passaporte de emergência. Visto. Passagens. Malas. Despedidas. CoLABoratório. Centro Coreográfico do Rio. Meu amor. Amigos. Quando dei por mim, já estava abraçando os dois, Vera e seu companheiro Jacob. Fazia um dia lindo, ensolarado e, no fundo, havia alguns chafarizes. Era Copenhagen. E eu, passado o medo da imigração e ansiedade das tantas horas de voo, lá estava. Artillerivej 74 4th seria o meu endereço no mês de agosto. Islands Brygge era o distrito, que tinha uma estação de metrô (eleito o melhor do mundo em 2008) e o ancoradouro próximos. Vera e Jacob estavam super animados com a minha visita. “Você quer descansar um pouco? Tomar um banho? A gente podia dar uma volta na cidade…” Lavei o rosto, peguei uma camiseta limpa na mala e saímos. Copenhagen em alguns minutos de carro. Tantos nomes impronunciáveis, ruas vazias, beleza, beleza, beleza. Descemos e caminhamos. Ruas vazias. Era domingo. Comida vietnamita no Lêlê. Lembrei do meu amor. Precisava ligar. Meu amor chorava no skype da Vera. Eu também era só lágrimas. Vera trouxe um fone de ouvido e saiu da cozinha em disparada. Novela mexicana (ou brasileira)? Segunda já era dia de trabalho. Conheci aqueles que se tornariam cada vez mais queridos no decorrer dos dias: Seimi, Boaz, Schiessl. Reunião na cozinha da Vera. Chá com leite e cravo. Pão. Curiosidades sobre Rio e Copenhagen. Chuvinha fina lá fora. A capa de chuva do Jacob me acompanharia até o último dia de minha estada. Primeiros testes nas ruas próximas ao apartamento de Vera e Jacob. Eu era um ET recém-descido de uma nave. Mas tinha celular e recebia SMSs. Tinha uma bicicleta também. E muita vergonha de não saber manejá-la nos primeiros dias. Como era desengonçado naquilo! Parecia que nunca tinha visto uma na minha frente… Rezava para os semáforos sempre estarem abertos (existem alguns só para as bikes) e a chuva só tornava tudo ainda mais desconfortável. Verdens Kultur Centret. Ensaiamos no centro cultural voltado à integração de culturas estrangeiras nas duas semanas seguintes. Já sabia o caminho de bicicleta, embora corresse para o metrô quando amanhecia chuvoso. Dei umas escapulidas: de posse de um mapa fornecido pela Schiessl, produtora do grupo e engraçadíssima, ficava mais fácil. Conheci Helsingor, onde fica o castelo que inspirou Shakespeare a escrever Hamlet, e assisti uma peça do SIGNA num casarão. Visitei o Glyptotek, museu financiado pela Carlsberg. Vários cafés (os restaurantes são chamados assim também), parques, lagos. A casa do Kristofer, que se juntaria a nós na semana de performances: sorvete de framboesa feito em casa, cogumelos, torradas, carne e batatas azuis (!), suco de hyldeblomst (uma florzinha, equivalente ao nosso guaraná em popularidade), vinho e chá. A cama elástica do quintal! Susanne, a esposa, e as crianças. (…)
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Amanhã tudo vai ser diferente

O convite para participar da nova performance do projeto dinamarquês hello!earth concretizou-se na forma de um processo de co-criação com os artistas Vera Maeder e Jacob Langaa-Sennek, além da poeta e artista visual Seimi Norregaard e do bailarino israelense-dinamarquês Boaz Barkan. Tomorrow everything will be different, baseada em troca de mensagens SMS com o público, fez parte do programa de “city walks” do Metropolis Festival, dedicado a propostas que propiciassem um olhar diferenciado sobre a cidade de Copenhagen através de caminhadas. Na etapa anterior, da qual pude participar como colaborador aqui no Rio, essa nova “lente” já era oferecida ao público. Eu mesmo nunca mais passarei incólume pela Lapa, Praça Tiradentes e trechos da Glória! Por mais que pensasse conhecer tais lugares como carioca que sou, a experiência de convivência e criação na rua é por demais arrebatadora e reveladora de camadas diversas de sensações, aprendizados, realidades. Como não poderia deixar de ser, o processo de criação nas ruas de Copenhagen, quase desertas em comparação às nossas, foi extremamente rico e cheio de nuances imprevisíveis. Apesar do conflito inicial no que diz respeito ao próprio desenvolvimento do sistema de mensagens SMS, que me ofereceu alguns obstáculos a serem transpostos, tudo correu tranquilamente (com suas eventuais doses de tensão e preocupação, é claro!). Na prática, a caminhada que propusemos era composta de duas partes. A primeira era uma introdução, onde o público saía pelas ruas do distrito de Norrebro, guiado por um sistema de mensagens SMS. É importante esclarecer aqui que, além de nós cinco (eu, Vera, Jacob, Seimi e Boaz), outros performers, dentre eles outra brasileira, Candice Didonet, se juntaram à tarefa de descortinar uma nova Copenhagen ao público. Dentre os momentos de interação com os performers, destaco o passeio de tandem (aquela bicicleta para duas pessoas) de olhos fechados usando uma fantasia de coelho; o chá que o público preparava, uns para os outros, num apartamento alugado pela produção; e as músicas brasileiras que eu e Candice cantávamos via celular na Sankt Hans Torv (praça) e Elmegade (rua). A segunda parte começava com a abertura do lacre que prendia as páginas de um guia, que o público já tinha recebido na saída do local de encontro (foto). Este continha instruções para que as pessoas continuassem sua jornada pela cidade (elaboramos algumas sugestões domésticas também), dessa vez, sem a presença dos performers. Nesse sentido, acredito que hello!earth deu um passo adiante em sua proposta, uma vez que o público se tornou mais autônomo do que na etapa anterior, ainda minuciosamente controlada através de mp3 players, celulares e um número maior de performers. Agora, a caminhada-performance “apresentada” no Metropolis Festival era apenas uma amostra do que cada pessoa poderia vivenciar posteriormente, em seu próprio ritmo, no horário e dia que lhe fosse mais conveniente. Em suma, apresentamos àquelas pessoas uma outra possibilidade de interação com aquele entorno já tão (aparentemente) conhecido: demos as instruções, um guia inclusive, testamos juntos alguns passos. Uma vez confiantes no que se refere ao funcionamento do “aparato”, cedemos a eles toda a liberdade (e responsabilidade também) de utilização do mesmo. Era como se falássemos: “Agora é com vocês!” O sistema ainda ficou “no ar” por mais quinze dias, o que possibilitou à nossa “platéia” compartilhar com amigos e parentes, reviver experiências além daquelas que não estavam incluídas na primeira parte da caminhada-performance. Nesse meio-tempo, eu já estava embarcado em uma nova aventura, de volta ao Rio: a última residência do coLABoratório, com o enérgico Rob List.
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