intervenção (3)


Como é que através do movimento o corpo se torna mais ou menos disponível para as alterações em seu estado de atenção?

Estas e outras perguntas estarão no centro do ciclo de workshops proporcionado pelo Projecto CO, a decorrerem em três blocos distintos até o início de Julho em Lisboa.

De inscrição gratuita, as actividades já começaram nesta semana, com uma proposta envolvendo "Leitura e Movimento" na Casa da Achada. Nas semanas seguintes ainda decorrem os workshops de “Interacção Corpo e Som” (de 21 a 24 de Junho, no c.e.m.) e a vivência “Corpo e Espaço Público” (3 e 4 de Julho, Largo da Rosa).

O Projecto CO culmina com duas apresentações públicas “Co – instalação audicoreográfica”, inseridas no Festival Pedras D’Água 2010, que se realizam a 22 e 23 de Julho nas Escadinhas da Achada, em Lisboa.

MAIS SOBRE O PROJECTO CO:
Co é a partícula etimológica de origem latina que traz o sentido de com.
A proposta conceptual deste projecto é investigar maneiras de desinvestir nas relações hierárquicas do espaço público, questionando relações de hábitos, propriedades, pertinências, usos, costumes, relações e vínculos; entre outros modos de interacção das matérias nos diferentes níveis de co-existência.
O que se propõe é a criação de uma instalação sonora e corporal co-dependente de aparatos de suporte existentes neste espaço (estruturas de apoio, corrimãos, paredes, muros, degraus, estímulos sonoros, etc.) de modo a evidenciar os vínculos intrínsecos por que se pautam as existências.

http://projectoco.wordpress.com
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A elaboração de um arquivo

A elaboração de um arquivo tem se revelado uma maneira bastante inspiradora de colecionar material com potência de transformação. Como disse Tamara num desses dias, “acho que tenho material para criar peças durante dois anos”.Estamos numa fase onde já conseguimos visualizar o montante reunido pelo arquivo e suas subdivisões. Isso permite que se tenha vontade de adicionar mais dados/exemplares às séries existentes ou até mesmo refazer algumas. Neste momento, também temos uma consciência maior de quanto falta para que algumas séries descortinem sua relevância de forma mais clara.Hoje, especificamente, começamos a investigar, fuçar mesmo, o arquivo em sua totalidade. Ou seja, nossas séries e as produzidas pelos outros grupos. O objetivo é elaborar imagens, combinações aleatórias de informações presentes no arquivo a partir de 3 parâmetros: intervenção, combinação e narração.A intervenção consiste em propor alguma alteração na série. Uma possibilidade de alteração é via tradução, ou seja, realizando uma leitura da série escolhida num formato diferente do original. A combinação é simplesmente colocar duas ou mais séries acontecendo ao mesmo tempo, no mesmo espaço. Já a narração consiste em criar um discurso a partir da combinação de uma ou mais séries.Tudo isso deve ser feito sem muito compromisso de criar obras, idéias, segundo Tamara. Essa seria uma fase potencializadora de insights a partir do que temos arquivado.(…)Paralelamente, sigo desenvolvendo algumas ferramentas e produzindo material em meus ensaios na Galeria do Centro Coreográfico. A desentrevista teve um desdobramento em vídeo na própria residência da Tamara (clique aqui para ver o vídeo), mas continuo fazendo a versão em texto.Criei essa ferramenta com o objetivo de subverter a estrutura padrão de uma entrevista. Parto de uma “afirmativa duvidosa” sobre mim mesmo a partir da qual derivo uma série de perguntas (geralmente limito a três perguntas). No vídeo, realizado em parceria com Astrid Toledo, Marcus Azevedo, Damares D’Arc, Stela Guz e Aluisio Flores, a afirmativa duvidosa e as perguntas eram escritas em pedaços de papel e postas em minha boca sucessivamente. Gosto da provocação que o vídeo faz na medida em que as perguntas e afirmativa não saem da boca, mas sim entram. Fico pensando que isso pode sugerir uma metáfora de internalização das perguntas (e posterior digestão?).O conceito de série trazido pela Tamara me inspirou a criar Aquisições. Nesta série, faço uma lista de tudo o que venho comprando, adquirindo ao longo de um mês. Comecei fotografando, mas acabou não dando certo, pois esquecia e acabava jogando fora os pacotes e embalagens por acidente. Depois de alguns dias, assumi o formato texto inspirado por Bauman: A “subjetividade” dos consumidores é feita de opções de compra (…) sua descrição adquire a forma de uma lista de compras.
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Pensando a dança de ponto a ponto.

Nós da Cia Luzia Amélia, resolvemos aqui em nossa Teresina, subverter a idéia de comemoração em torno do dia da dança, propondo para a cidade questões específicas do nosso fazer artístico. Fizemos uma performance itinerante e simultânea em várias paradas de ônibus e dentro de um ônibus que nos levou para a universidade federal. Invadimos a universidade, invadimos a biblioteca, queríamos com essa atitude chamar atenção para questões sérias como a implantação urgente de um curso superior de dança em Teresina, a necessidade de se pensar políticas publicas efetivas para a dança e cutucar os outros profissionais para a necessidade dos artistas bailarinos, coreógrafos refletirem e não apenas se deixarem levar por uma atividade meramente braçal, servindo para a maquiagem de eventos. Não somos apenas cenários, nossa atividade pode e deve gerar conhecimento. A cada ponto de ônibus, um de nós entrava com figurinos improváveis. Ouvi um jovem falando que ia seguir até o final, mesmo saindo de seu caminho só para ver o que iria acontecer - um misto de alegria e ansiedade invadiu seus olhos. As pessoas dentro do ônibus, por sua vez, não sabiam o que fazer, ao mesmo tempo estavam, ainda que a contra gosto, participando ativamente da performance. Foi poético, emocionante, desconcertante. O motorista e o cobrador pareciam nossos companheiros de arte, nos olharam com uma cumplicidade, como se nos conhecessem, e dançaram também. Na biblioteca central da universidade, parada final de nossa jornada, nos sentimos como corpos vindos de outras realidades, corpos proponentes e não marionetes, vivos, sujeitos do nosso processo. As reações foram as mais diversas, teve gente que dançou, tirou foto, riu baixinho, riu alto, se encolheu, silenciou… já quase no finalzinho um estudante bradou: “Isso é uma palhaçada! Eles não deveriam estar aqui, aqui não é o lugar deles”. Uma professora angustiada respondeu no mesmo tom: ”Isso é arte!”. E nós continuávamos ali imersos naquela aventura de dança, sentindo, suando, nos fazendo espaço e querendo espaço, em uma atitude deslocada de se dançar aonde se busca saber. Terminamos mais fortes e conscientes de nossa realidade artística, bailarinos, sertanejos, piauienses. E no nosso corpo, a pergunta: onde é mesmo o nosso lugar?
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