corpo (14)

#tapiocatouch em Berlim de 11a 26 de nov

O projeto #tapiocatouch, apresentado no âmbito d5.º Festival de Cultura Afro-brasileiraé composto pelos performers brasileiros Andrea Krohn (São Paulo), Priscila Patta (Belo Horizonte), Marçal Rodrigues (Porto Alegre) e a artista visual Thiana Sehn (Camaquã), responsável pelo trabalho gráfico. Três bailarinos e uma artista visual de diferentes regiões do Brasil tentam construir uma colaboração marcada pelas redes sociais, apesar de estarem fisicamente longe. Trocam gostos e ideias por e-mail e publicações nas redes sociais. Movem-se entre si pela memória digital usada nas tarefas de memória do corpo. Os limites do corpo – a tecnologia da vida quotidiana – e terabytes espaciais estão disponíveis para as performances. A ideia nasceu de uma inquietação sobre a utilidade das redes sociais para a produção artística de trabalhos coletivos com pessoas desconhecidas dentro deste tempo de corpo digitalizado, mediado pela máquina e a imagem.

Hoje dia 11 iniciam as performances aqui em Berlim com Andrea Krohn e seu solo: Ochsentanz.

        dia 12  Marsal Rodrigues apresenta ORI

         dia 13 Priscila Patta apresenta  A dança que digiro

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Sete Tons de uma Poesia

"Bom dia a todas e todos, durante cada fala aqui eu pensava como organizar a minha fala. São tantas questões aqui colocadas e angustias do dia a dia de quem está em sala de aula e quem está em escola, eu queria pelo menos sintetizar minimamente essas angustias..................... .......................................
É isso que eu quero dizer"

 


 Amanda Gurgel (RN)12249176052?profile=original

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SORRIA VOCÊ ESTÁ NA BAHIA

 

“Bahia: terra da felicidade”! Cantou o poeta um dia, e, vai disseminando o Povo e os governantes baianos esta idéia.  È bem verdade, a Bahia é uma felicidade só, para quem aqui aporta e sente sua beleza/arquitetura. Seu povo negro, lindo e “feliz”, esboça a dança na cadência do samba, na cadência do samba-regae, do carnaval, das festas sincréticas religiosas. A felicidade,  está no jeito de falar alto e sorrir do baiano, na sua produção artística cultural intensa, onde o baiano,  além de se afirmar feliz , afirma que o baiano não nasce , “estréia”.

Mas o que está por traz dessa felicidade musicada, dançada do jeito baiano? Quem faz esta pergunta por meio da estética da dança cênica contemporânea é a dançarina Norma Santana,  com o seu espetáculo: Sorria ! Você está na Bahia. As imagens projetadas das festas populares baianas e do seu povo no espetáculo, vai dando a sensação na platéia desta pretensiosa felicidade, alcançada por meio das festividades locais, sendo pois para nós o que nos encanta.

O corpo de norma, vai dançando esta alegria ou pseudofelicidade baiana,  através de uma coreografia construída a partir da observação destes corpos, dos corpos dançantes dos praticantes da capoeira, dos dançarinos de pagodes e Aché, do hip hop, aliados a movimentação de dança  de Norma. Ela enquanto artista,  vem construindo e buscando nestes fazeres híbridos,  linguagem própria de dança. Sua dança vai tomando conta da platéia e vamos nos perguntando onde este corpo quer chegar? O que ele quer dizer nesta coreografia?

A dança de Norma Santana,  vai performatizando-se de uma maneira segura, vai alcançando a platéia, confirmando o carisma da dançarina dentro e fora do palco. Entre volteios, gingados e malemolejos baianos,  ela saca um dedo em riste, que enquanto dança, aponta para ela própria, toca algumas partes do seu corpo e chega a boca,  dando a intenção de náusea, de mal estar, de deslocamento, assim como indica uma sensualidade exarcebada. Seu corpo vai dizendo frases dançandas, as vezes repetidas, mas também  pré anunciando o discurso oral que está por vir.

A música cessa, ela desce do palco e intercepta  a platéia,  contando estórias de corpos femininos baianos que não se encaixam neste slogan: Sorria você está na Bahia. Sua fala traz ao público , uma mulher baiana negociada pelo tráfico internacional de mulheres, outra prepara-se para uma entrevista de emprego, no entanto, o anuncio deixa claro o racismo: “Precisa-se de empregada doméstica branca”.

A tal felicidade baiana, está longe de ser conquistada  pelos baianos,  quando o Estado mostra-se na extrema miséria, quando mostra-se excludente, racista e classista. O sorriso que Norma embota em nossos rostos, torna-se amarelo, pois revela esta outra face tão à mostra,  que nós baianos e naos baianos, não queremos ver. O  sorriso chega como um tapa, para reafirmar o que há muito percebemos, o que está mais que explicito. Por trás desta felicidade baiana/ brasileira, desta sensualidade, desta alegria encontrada nas festividades do dia-a-dia, não é  revelado a dor, o sofrimento, o apharteid, o trabalho duro do povo baiano, que ainda por cima tem fama de ser  preguiçoso,  quando busca fazendo todo tipo de serviço um meio de tornar-se indendente do sistema escravocrata que geramos pelo capital.

Se esta felicidade baiana é falsa , a dança de Norma mostra-se verdadeira. Traz em si o poder de reflexão e divertimento que a Arte tem nos presenteando,  proporcionando pelo menos por vinte minutos, a felicidade. A tal felicidade chega até nós enquanto dança, e então ao fim do espetáculo,  podemos compartilhar com ela do slogan: Sorria você está na Bahia.

 

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O corpo perturbador de Duchamp

Tenho pensado muito na presença dos corpos dentro da proposta d'O Corpo Perturbador, meu novo espetáculo. Pensado sobretudo no movimento desses corpos (o meu e de Meia Lua, estagiário do projeto).

Não sei porque, me veio a idéia de "Ready Made" criado por Duchamp.

O corpo como um Ready Made, o movimento que o corpo vem fazendo ao longo do tempo. As curvas. Pretendendo uma observação desse corpo sem floreios, arranjos, enbelezamentos vindos dos movimentos dançantes.

Trazer a cena o que já existe cotidianamente, diariamente, voyerismo ao corpo def.

Brincar com os corpos da Dança Contemporânea que parecem buscar o "aleijo". O discurso contemporâneo, subjetivo, a obra pelo discurso.

O conceito de Ready Made, principalmente em relação ao olhar sobre estes corpos, sobre a rejeição em cena, sobre uma nova possibilidade artística que ainda não foi absorvida.


Estou escrevendo a bula do trabalho, ne?

Tem mais coisas sobre o projeto no blog http://ocorpoperturbador.blogspot.com/

A estréia será logo no início de Dezembro, no ICBA.




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Por que ir assistir a O Corpo Perturbador

Por Carollini Assis

 

Antes de ler sobre O Corpo Perturbador, pois pretendia ir assistir ao espetáculo, eu não sabia da existência dos devotees, pessoas que sentem atração sexual por outras com deficiência. Sequer da dos pretenders, que além de serem devotees, fingem ser deficientes. E dos wannabes, devotees que querem tornar-se deficientes. O Corpo Perturbador já enriqueceu minha visão de mundo antes mesmo de sentir o impacto do espetáculo no palco. 

 

Chovia. Chovia muito. Duvidei que fosse ter o espetáculo. Tomava um capuccino enquanto esperava o anúncio por parte da produção. Não havia cobertura para o cenário, mas para o público sim. De repente, os olhos da amiga ao meu lado tem o foco de atenção mudado. E ao menear minha cabeça, eis que vem ele, Edu O., pelo chão vem trazendo o universo de movimentos do corpo, do olhar. Do outro lado, eis que surge Meia Lua já quase no cenário. Quando vi tamanha integridade, força e determinação, quando vi as gotas d´água caírem sobre as cabeças daqueles meninos diante dos olhos atentos de um público que é encanto e inquisição, emocionei-me. Atuar e dançar na chuva é para quem tem total domínio sobre seu trabalho, sensibilidade, é para quem sabe que água é benção, Oxum. 

 

O corpo com deficiência se mostra pleno numa cama de gato que nos inquieta, agiganta e questiona. Delicadeza e testosterona, sussuros, ruídos, sonoridades nascidas de um trabalho de pesquisa que, chicotada de sutileza, sufoca nosso grito, torna-o oculto, prende nosso olhar, torna-o devoto das nuances coreográficas por vezes lancinantes, por vezes delicada e poética. 

 

A rejeição do entrelaçar de pernas, entre Edu Oliveira e Meia Lua, é uma cena que nos convida a questionar o amor, a rejeição, a insistência, a busca sem fim do outro no nosso próprio eu. Desfila-se um comprimir dos corpos na teia dos quereres e quem pensa que a estética do corpo disforme vai atrair seu olhar, sequer imagina que o baile dos corpos encontraram o caminho de infinitas possibilidades, não mais o procuram. 

 

Não sou crítica, nem tenho conhecimentos para tal. Sinceramente descrevo as emoções que me deixaram desconcertada após o espetáculo. Perturbada. 

 

Viva quem faz e acontece na Bahia! Prolongados aplausos para os meninos que fizeram a dança dos corpos na chuva. 

 

O Corpo Pertubador

20 a 23 de janeiro

Pátio do ICBA - entrada franca

17h30 

 

Vencedor do Edital Yanka Rudzka de Apoio á montagem de espetáculos de dança 

 

Informações: http://ocorpoperturbador.blogspot.com/

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Poéticas do corpo

Improvisação em Contato: poéticas do corpo é um projeto de difusão, intercâmbio, reflexão e promoção da dança contemporânea, com ênfase na pesquisa da linguagem artística do Contato Improvisação. A diretriz específica deste projeto é de natureza acadêmica, vinculada ao ensino do Curso de Graduação Bacharelado em Artes Cênicas da Universidade Federal de Santa Catarina. Dessa forma, visa desenvolver práticas de estudos do corpo na arte relacionada às propostas pedagógicas do Curso e da linha de pesquisa Poéticas do Corpo.

O projeto tem como objetivo promover ações educativas para a formação e a qualificação artística dos discentes, dos docentes e da comunidade. A proposta abrange: grupo de pesquisa e estudo do corpo na arte; oficinas semanais de dança Contato Improvisação e Dança Cênica para a comunidade; encontros de improvisação de dança e música – Jam Session; e também palestras e debates para a democratização dos conhecimentos desenvolvidos no ensino, na pesquisa e na extensão. A proposta deste projeto envolve ações da inclusão da arte e da educação pelo corpo nas políticas públicas para o desenvolvimento da cidadania.

Equipe: Ana Alonso, Claudinei Sevegnani, Janaina Martins, Nastaja Brehsan, Tamara Hass.

http://poeticasdocorpo.wordpress.com/

Artes Cênicas – UFSC
PROEXT 2009 – MEC/SESu

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O corpo político de Micheline Torres

Em época de bienal sobre arte e política, pareceu-me oportuna e irônica a promessa trazida no título do solo de dança de Micheline Torres, "Eu prometo, isto é político". Para mim, estava sendo contestada a eficácia de uma arte contemporânea de pretenso engajamento político, que não é capaz de escapar do beco sem saída produzido pela lógica de um mercado que a tudo engole. Nos tempos atuais, as subversões e as críticas são constantemente incorporadas pelas próprias engenharias que pretendem questionar. Vejamos, por exemplo, o retorno dos pichadores – criminalizados por sua ação em 2008 – à bienal, desta vez como legítimos convidados e aclamados como aqueles que verdadeiramente borram as fronteiras entre a arte e a política.

Á revelia da minha prévia concepção sobre os motivos da obra, ficou claro, com poucos minutos de apresentação, que a hipótese da ironia não dava conta do título do solo de Micheline. Havia uma provocação: importava menos se a arte contemporânea é ou não capaz de ser política e mais os múltiplos sentidos que esta palavra pode assumir, bem como atuar e manifestar-se no corpo. Assim, em primeiro lugar, apareceu a marca. Ela não estava ali por acaso, já indicava o estatuto deste corpo em constante tensão entre o emblema que é taxado sobre a pele - como em um animal, de acordo com a própria artista - e a liberdade de escolhas permanentemente moduladas por valores proclamados nos discursos destas mesmas marcas.

O consumo foi a tônica em algumas cenas, mas também os festejos e os esportes. Em todas as situações, sobressaía o corpo tensionado entre forças que pareciam antagônicas e que, no entanto, contribuíam mutuamente naquela construção. As sedutoras cores do consumo e o aprisionamento a um ideal de beleza, a luta incansável pela vitória e o total desfalecimento, a alegria das festividades e a insensatez daqueles movimentos continuamente repetidos, tudo culminava, em algum momento, em gestos de comemoração e agradecimento. As mãos cerradas e os braços estendidos para o alto, ou abertos como se estivessem recebendo uma benção, deixavam uma pergunta: o que é celebrado?

Havia, também, a máscara. O corpo evidenciado em toda sua potência expressiva deixava claro onde podemos localizar, para a artista, a política. “Meu corpo é minha política”, ela diz, e, agora, eu me pego sendo muito restritiva nas minhas conclusões a respeito deste espetáculo, porque estou focada naquilo que vi na cena e, na verdade, o processo de criação tem um papel fundamental naquela provocação proposta por Micheline. Os múltiplos sentidos de política interagem no campo das contribuições fomentadas pela bailarina em suas andanças pelo mundo, nos encontros com as pessoas e as cidades, e vão acabar por se aglutinar em seu corpo, em resultados diversos a cada momento. A máscara confirma esta perspectiva, cada vez mais comum na dança contemporânea, de que não há nada por trás daquilo que se vê, pois está tudo manifestado na visibilidade do corpo e de seus gestos. Se há uma singularidade neste trabalho, ela é resultado dos trânsitos, das conversas, dos afetos, do olhar para o lado, do descentralizar, que faz, como a própria artista diz, com que cada colaborador chegue a seu próprio lugar. A política, portanto, não está em um espaço para além de nossas cabeças, mas no corpo que participa dos espaços por onde transita.
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Removemos os desejos da maneira mais radical e efetiva: tornando-os invisíveis, por não olhá-los, e inimagináveis por não pensarmos neles. (BAUMAN, 2010)

A política de fazer escolhas e tomar decisões inerentes ao corpo, e, portanto, também ao corpo de pessoas com deficiências, se modificou radicalmente em tempos recentes. Um dos fatores de importância nessa mudança tem sido a acessibilidade ao universo da dança proporcionado pelo afrouxamento das fronteiras em decorrência dos avanços tecnológicos e do fluxo de informações entre as diversas áreas do conhecimento. Embora a dança tenha sua importância no rompimento de algumas barreiras, quando refletimos sobre os hábitos comportamentais dessas pessoas e sobre criação e configurações em dança elaboradas em seus corpos, observa-se que o preconceito é recorrente, sobretudo decorrente da falta de informação e a intolerância a modelos mais flexíveis de entendimento de corpo que continua circulando. Entendimentos que se apoiam no complexo de determinações sócio-historico-cultural que cercam o universo da dança, tais como as tendências do corpo ideal, virtuoso e de alto rendimento que até então vem sendo mantido. Considerando que o acesso a educação através da arte é um processo complexo e difícil para todas as pessoas, o que exige esforço, dedicação, incentivo e, condições adequadas para que este conhecimento tenha representatividade, para o dançarino com deficiência, esse incentivo deve ser redobrado com ações estimuladoras para a efetiva profissionalização e valorização nos meios artísticos. Chamo a atenção para o fato de que na arte, e, especificamente na dança, os discursos que emergem desses corpos falam do corpo vitima, coitadinho, incapaz de se auto-gerir, inaugurando idéias que além de estimular a crença da ineficiência vão de encontro aos avanços científicos acerca do corpo, no entendimento do corpo como um sujeito biológico e culturalmente implicado no ambiente, o corpo co-autor e munido de um aparato cognitivo, apto para construir conhecimentos e desenvolver diálogos possíveis no mundo que habita. Contrapondo a esses pensamentos equivocados, o conceito de Corpomídia (Katz & Greiner, 2005), aqui se instaura para discutir que a dança construída no corpo, seja ele com deficiência ou não são produzidos e correspondentes às suas experiências, diante de todas as interferências que o cerceiam e obstáculos intrínsecos ao viver cotidiano. Quando se considera estas noções no campo do discurso poético permitirá trazer à tona a complexidade que se estabelece no corpo do dançarino com deficiência e o aproveitamento das suas potencialidades. Pertinente nos aproximar o pensamento do professor Jorge Albuquerque Vieira em seu livro Teoria e Conhecimento em Arte (2006). Para ele, a vida enquanto sistema complexo para sobrevier com autonomia precisa desenvolver estratégias de permanência dialogando com sensibilidade com a realidade emergente. Ai, nesses locais não acreditáveis, a possibilidades de processos imprevisíveis acontecerem abrindo novas rotas é uma oportunidade de florescimento. A necessidade de distribuir outro tipo de informação sobre o corpo de pessoas com deficiência passa pela urgência de consolidar meios educacionais para tal informação. A sua ausência dificulta o desenvolvimento integral desses corpos, bem como o seu acesso a atividades que contribuiriam na melhoria de sua condição física. O tipo de visibilidade que o corpo conquista, portanto, possibilita um determinado rumo político para a sua própria permanência no mundo, pois constrói políticas sociais, culturais e biológicas voltadas para as informações que encarna.

Profa. Dra. Fátima Daltro – Escola de Dança /UFBA

Coordenador projeto pesquisa Poéticas da Diferença – PPGDANCA/UFBA

Coreógrafa Grupo x de Improvisação em Dança

http://encontrodedancainclusiva.blogspot.com/

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DESLOCAMENTOS..

Fico a pensar se não é disso que estamos tratando em nosso trabalho. Claro que além das inúmeras interfaces, que na conversa com Maurício Pereira, o músico, foi possível identificar, ou seja, é possível falar desta nossa pesquisa por vários recortes e interagi-los de maneira a criar um grande complexo de pensamentos e reflexões. Mas ao escrever, deslocamentos, abro um grande guarda-chuva do óbvio, visto termos escolhido um nome que também é isso, Lá e Cá. Este nome é em si um deslocamento, e o “e” detém uma força enorme da essência aqui até agora circulada. O estado de estar lá ou cá parece não ter tanta força como o fato de estarmos no “e” que é o próprio deslocamento. Iran desenhou isso, usando o “e” como signo de eletrônico e de ligação do lá e cá, e no instante em que vi gostei, compreendi e agora este sinal aparece com mais força. E ao ler e ouvir muitos comentários de nossa pesquisa chegados de tantos lugares e também nestes breves momentos de viagem foi possível sentir e presenciar de forma mais intensa este ícone incubado no pensamento. O instinto abissal criado pelo processo artístico coloca-nos em um quase medo de não saber, um voar no nada, sem chão e perdidos, mas é nele que criamos. A instabilidade e o desconforto são partes deste processo que nos faz desejar criar um ponto, um chão de trabalho. Aqui o movimento em falso que estamos colocados se faz necessário, é preciso ir, a queda é inevitável. Parece que ao estarmos utilizando ferramentas sócio digitais na produção em arte deparamos com uma necessidade e uma carência de uma aproximação táctil. Pois, tudo que esta tecnologia propicia ainda nos deixa carentes de aproximação, da necessidade do contato de entender por outras formas o que aquele outro ta dizendo. E neste momento vem a pergunta, como nasce o impulso de produzir um software? Sim, são coisas diferentes e nem estou criando uma expectativa de conduzir este texto a pensamento de colocar software como um processo artístico, mas de possibilitar um dialogo e que talvez, somente talvez exista entre eles coisas muito em comum durante o processo. Parece-me que a existência de um programa precede um vazio e ele é tão subjetivo e imaterial quando o processo vivido em arte. Usamos o meio, entramos neste espaço, cruzamos uma série de interfaces e barreiras dentro da possibilidade física digital e táctil que a colocamos em nosso corpo criando um processo de apropriação e nos descobrimos nem tão tácteis e nem tão digitais, usuários e não dependentes, mas instauramos um precedente de processos no qual o deslocamento se fez em dança o elemento de ligação.

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Informe C3 - Edição 09

“Pré-natal: Tempo de gestação”
Criatividade/Invenção/Descobertas/Possibilidades

www.processoc3.com


Qual a relação entre criar, descobrir e inventar? Falar de criação é falar de possibilidades de fazer e pensar algo, e são essas possibilidades que permitem vislumbrar um panorama que indica quais os caminhos que se pode escolher. Que escolhas fazer? A gestação em seres humanos tem uma previsão de 9 (nove) meses que seria o tempo para a criação, para o desenvolvimento do feto. E o criar de um modo geral tem um tempo estabelecido? Se pensarmos que tudo está em processo, tudo está em constante construção, podemos pensar em estar sempre em criação?

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ESTUDO EM FORMATO IMPROVISACIONAL

Levar o corpo ao ponto de sufocamento.Como esse corpo resiste? Como ele se comporta após a ocorrência dessa situação? Encontrar soluções possíveis para tais questões é a proposta desta pesquisa, cujo enfoque está na construção de corporalidades a fim de configurar o trabalho num formato estético improvisacional.

Tal questão expande-se da percepção acerca da pressão exercida pela aceleração dos processos contemporâneos nas relações entre os corpos cotidianos, os vínculos frágeis, as relações de poder, os relacionamentos em “redes”, identificados no atual contexto metropolitano de Salvador, cuja urbanidade, com resquícios de colonização, apresenta a violência perpetuada nos corpos, seja nas cores dos vestuários, no erotismo exacerbado, no comportamento que atravessa o outro evasivamente.

Esse projeto foi selecionado para participar no Projeto Teorema 2009 em São Paulo. A curadoria e a programação do Teorema são de Fabiana Dultra Britto e a idealização, de Adriana Grechi. Estudo para Carne, Água e Osso é uma proposta que se desdobra de Partes sem Roteiros - trabalho do Grupo HIS CONTEMPORÂNEO de Dança, Salvador/BA - com interesse em dar continuidade às investigações do grupo acerca do formato improvisacional de caráter processual, onde o corpo é o principal elemento propositor e construtor da obra/dramaturgia.

Para apresentação nessa temporada no Teatro GamboaNova, foram convidados alguns músicos para improvisarem juntamente com os dançarinos, criando um espaço improvisativo em tempo real.

Local de Apresentação: Teatro Gamboa Nova, s/n Aflitos Salvador- Bahia

Datas: 22 a 24 de abril e 29 a 01 de maio às 20:00 h.

Participantes:

Iara Cerqueira, Sandra Corradini e Douglas Gibran, dançarinos

Mateus Dantas, Maurício Sprovieri,Som do Roque, Gulherme Bertissolo, Daniel Mendes, Heitor Dantas e Laila Rosa, músicos.

Ingressos: R$ 10(inteira) e R$ 5(meia)

Concepção e realização: HIS Contemporâneo de dança.

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O Grupo HIS estará presente no XIII ENEARTE apresentando dois trabalhos em processo, Partes sem Roteiros(21/09 às 20:30 h) e Estudo para carne, água e osso(23/09 às 19:15). Alguns referenciais fundamentaram o processo de construção das obras em seu aspecto experimental e processual, o que, em outras palavras, diz respeito à investigação de uma forma não acabada e flexível, permitindo a inclusão e/ou exclusão de proposições direcionadas à investigação e à construção não apenas de corporeidades e de ambiências, como também da dramaturgia. Ao serem consideradas obras abertas, pressupõe-se que ambos trabalhos propiciem leituras diversas de modo que um olhar à primeira vista não seja tido como fonte primeira e única de informação, mas, sim, que esta relação viabilize a reestruturação do pensamento a partir da capacidade criativa e interpretativa de cada espectador.

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De que natureza era o canto das sereias? Em que consistia a sua falha? Porque é que essa falha o tornava tão poderoso? Há os que sempre responderam: era um canto inumano – sem dúvida um ruído natural (haverá outros?), mas à margem da natureza, de qualquer modo estranho ao homem, muito abaixo e despertando nele esse prazer extremo de cair que lhe é impossível satisfazer nas condições normais da vida. (M. Blanchot) Os espaços públicos de Salvador, Bahia, contam com profusão de imagens de Sereia por meio de desenhos, pinturas e esculturas (em várias escalas, materiais, suportes) é um acontecimento evidente, desde as três esculturas vistas no percurso rápido entre as praias centrais do litoral norte da cidade a partir de Ondina, Rio Vermelho, Amaralina, Itapuã; extensivo à influência dessas figuras e grafismos nos muros, marcas de produtos de design, espaços culturais e comerciais da cidade. Também se verifica essa recorrência do símbolo em locais mais ou menos afastados da orla. Tal característica da cidade pode ser realçada como um plano de consistência estética pelo qual passa a produção de significados e de encontros na sociedade, no ambiente, agenciamentos de enunciação ou produção de subjetividades. Independente das imagens se tratarem de manifestações espontâneas, artísticas, subversivas ou subvencionadas, elas são impostas e intensificadas pela repetição e “empilhamento”. Procuramos a chance de um olhar reflexivo e para redimensionar significados, perceber dinâmicas e desdobramentos potenciais da relação dessas imagens nos espaços da cidade de Salvador; observaríamos isso com uma forma de pensamento em que os corpos, a cidade e o ambiente estejam imbricados, em processo. (Brito e Ahmed: 2008) A imagem de sereia possui uma carga aparentemente fácil de aspectos relacionais, como a presença da tradição clássica latina e grega, o imaginário medieval dos navegantes, o sincretismo com as tradições afro brasileiras, os orixás ‘mãe das águas’, Oxum, Iemanjá, Nanã, presenças potentes no cotidiano dos corpos (e) da cidade, das celebrações das festas de largo do dia dois de fevereiro, como registradas na pesquisa abissal da fotógrafa Isabel Gouvêa. Perguntar quais os devires implicados numa flagrante repetição do motivo sereia, que multiplicidade de forças entoaria a plasticidade social com a presença de tais obras | imagens ou eventos, significa problematizar os nexos de sua relação com as experiências corporais do ambiente, é buscar um plano que recorte a constituição de conceitos que se reorganizam ao habitar essa realidade. Sereia traduz liame, limite, corda e também significa miragem, no alemão fata morgana, ilusão de óptica, refração total da luz na atmosfera. A sereia como um ser insólito, quimera, ilusão, canto hipnótico, abre passagem ao lugar da poética. Maurice Blanchot observa no Livro por vir (O Canto das sereias: o encontro com o imaginário) que Ulisses, na Odisséia, ao burlar o canto das sereias instaura o lugar da narrativa (fala| ordem) contra o da poesia (canto| caos). Em Salvador, a presença constante de obras escultóricas e intervenções que repetem essa imagem nos espaços de circulação como se fossem ‘miragens’ capturadas, cotidianamente, estaria relacionada à ação de burlar e ou de pactuar com esse canto caótico e irracional? Colocar questões a partir de corpos e figuras de sereias materializadas na paisagem com tinta, bronze ou concreto, pode ser colaborar com esse acontecimento estético desdobrado nas esculturas, grafittis, marcas, símbolos, adereços, festas de largo (rua), colaborar como uma forma de experimentação de qualidades das atitudes que circulam com essas imagens, performar (SETENTA: 2008) com o corpo e o espaço desenhos de processos de subjetivação, de semiotização. Compreendendo por produção de subjetividade toda produção de sentido de eficácia semiótica, processos de semiotização (Guattari:1992). Suely Rolnik destaca em Cartografias do desejo, a delicada transição que o homem vem efetuando desde o século XX, sua relação com o caos, que não se dá apenas no plano da consciência, e sim no plano do próprio modo de subjetivação. Uma subjetividade intrinsecamente processual. (Rolnik:1996) Para ela, libertar a subjetividade da tutela do terror em relação ao outro e ao caos passaria pela conquista da necessidade de experimentá-los. Nos espaços públicos da cidade de Salvador, o ambiente plural, a intensa troca de semioses com outros corposcidades, onde a presença do “outro” também é uma experiência cotidiana, as imagens de sereia podem ser pensadas enquanto cruzamento de linhas e procedimentos do imaginário social, de signos de assimilação do caos, da sobreposição de inúmeras versões das suas poéticas próprias da cidade e a produção de uma subjetividade que consente na inflexão do vocabulário para a experiência do ambiente. * Esse texto é parte da investigação para a criação cênica [em processo] :: IBIRI | o que desenrolou de repente, de Marcia Sobral :: CITAÇÕES Blanchot, Maurice. O encontro com o imaginário. In: O Livro por vir. Tradução de Maria Regina Louro, Portugal: Relógio D’água, s/d. Britto, Fabiana Dultra e Alejandro Ahmed. Entrevista: Debates em estética urbana 1 – 27 a 31 de outubro 2008. disponível em: http://www.corpocidade.dan.ufba.br/dobra/04_03_entrevista.htm Guattari, Félix. Caosmose: Um novo paradigma estético. Rio de Janeiro: 34, 1992 Rolnik, Suely e Félix Guattari. Micropolítica: Cartografias do Desejo. Petrópolis: Vozes, 1996 Setenta, Jussara. Fazer-Dizer Performativo em Dança: corpo; cidade; performatividade :Artigo/Ensaio : Debates em estética Urbana 5 - 27 a 31 de outubro de 2008. disponível em http://www.corpocidade.dan.ufba.br/dobra/05_02_artigo2.htm :: SEREIAS

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.Chafariz de Yemanjá (Concreto revestido com fibra de vidro, Altura = 4,00m), Autor: Bel Borba, 1990, SSA/BA :: Praça Cel. Valdir Aguiar - Itaigara

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Sereia de Itapuã / Iemanjá (Aço Carbono e Granito, altura = 3,34m com pedestal) - Autor: Mário Cravo Jr, 1958, SSA/BA :: Av. Octávio Mangabeira - Itapuã

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Sereia da Colônia de pescadores, Artista = Manuel Bonfim, 1970, Altura = 3,74m, Largo do Santana – Rio Vermelho, local que concentra a festa do dia dois de fevereiro e o cortejo de embarcações.
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O sexo e o cérebro não são músculos, nem podem ser. Disso decorrem várias conseqüências importantes, das quais esta não é a menor: não amamos o que queremos, mas o que desejamos, mas o que amamos e que não escolhemos. Como poderíamos escolher nossos desejos ou nossos amores, se só podemos escolher – ainda que entre vários desejos diferentes, entre vários amores diferentes – em função deles? O amor não se comanda e não poderia, em conseqüência, ser um dever"Sua presença num tratado das virtudes torna-se, por conseguinte, problemática? Talvez. Mas devemos dizer também que virtude e dever são duas coisas diferentes (o dever é uma coerção, a virtude, uma liberdade), ambas necessárias, claro, solidárias uma da outra, evidentemente, mas antes complementares, até mesmo simétricas, do que semelhantes ou confundidas. Isso é verdade, parece-me, para qualquer virtude: quanto mais somos generosos, por exemplo, menos a beneficência aparece como dever, isto é, como uma coerção. Mas é verdade a fortiriori para o amor. “O que fazemos por amor sempre se consuma além do bem e do mal”, dizia Nietzsche. Eu não iria tão longe, já que o amor é o próprio bem. Mas além do dever e do proibido, sim, quase sempre, e tanto melhor! O dever é uma coerção (um “jugo”, diz Kant), o dever é uma tristeza, ao passo que o amor é uma espontaneidade alegre. “O que fazemos por coerção”, escreve Kant, “não fazemos por amor.” Isso se inverte: o que fazemos por amor não fazemos por coerção, nem, portanto, por dever. Todos sabemos disso, e sabemos também que algumas de nossas experiências mais evidentemente éticas não têm, por isso, nada a ver com a moral, não porque a contradizem, é claro, mas porque não precisam de suas obrigações. Que mãe alimenta o filho por dever? E há expressão mais atroz do que dever conjugal? Quando o amor existe, quando o desejo existe, para que o dever? Que, no entanto, existe uma virtude conjugal, que existe uma virtude maternal, e no próprio prazer, no próprio amor, não há a menor dúvida! Pode-se dar o peito, pode-se dar a si mesma, pode-se amar, pode-se acariciar, com mais ou menos generosidade, mais ou menos doçura, mais ou menos pureza, mais ou menos fidelidade, mais ou menos prudência, quando necessário, mais ou menos humor, mais ou menos simplicidade, mais ou menos boa-fé, mais ou menos amor… Que outra coisa é alimentar o filho ou fazer amor virtuosamente, isto é, excelentemente? Há uma maneira medíocre, egoísta, odienta às vezes de fazer amor. E há outra, ou várias outras, tantos quantos são os indivíduos e os casais, de fazê-lo bem, o que é bem-fazer, o que é virtude. O amor físico não é mais que um exemplo, que seria tão absurdo superestimar, como muitos fazem hoje em dia, como foi, durante séculos, diabolizar. O amor, se nasce da sexualidade, como quer Freud e como acredito, não poderia reduzir-se a ela, e em todo caso vai muito além de nossos pequenos ou grandes prazeres eróticos. É toda a nossa vida, privada ou pública, familiar ou profissional, que só vale proporcionalmente ao amor que nela pomos ou encontramos. Por que seríamos egoístas, se não amássemos a nós mesmos? Por que trabalharíamos, se não fosse o amor ao dinheiro, ao conforto ou ao trabalho? Por que a filosofia, se não fosse o amor à sabedoria? E, se eu não amasse a filosofia, por que todos estes livros? Por que este, se eu não amasse as virtudes? E por que você o leria, se não compartilhasse algum desses amores? O amor não se comanda, pois é o amor que comanda. Isso também é válido, obviamente, em nossa vida moral ou ética. Só necessitamos de moral em falta de amor, repitamos, e é por isso que temos tanta necessidade de moral! É o amor que comanda, mas o amor faz falta: o amor comanda em sua ausência e por essa própria ausência. É o que o dever exprime ou revela, o dever que só nos constrange a fazer aquilo que o amor, se estivesse presente, bastaria, sem coerção, para suscitar. Como o amor poderia comandar outra coisa que não ele mesmo, que não se comanda, ou outra coisa pelo menos que não o que se assemelha a ele? Só se comanda a ação, e isso diz o essencial: não é o amor que a moral prescreve, é realizar, por dever, essa própria ação que o amor, se estivesse presente, já teria livremente consumado. Máxima do dever: Age como se amasses. No fundo, é o que Kant chamava de amor prático: “O amor para com os homens é possível, para dizer a verdade, mas não pode ser comandado, pois não está ao alcance de nenhum homem amar alguém simplesmente por ordem. É, pois, simplesmente o amor prático que está incluído nesse núcleo de todas as leis. […] Amar o próximo significa praticar de bom grado todos os seus deveres para com ele. Mas a ordem que faz disso uma regra para nós também não pode comandar que tenhamos essa intenção nas ações conformes ao dever, mas simplesmente que tendamos a ela. Porque o mandamento de que devemos fazer alguma coisa de bom grado é em si contraditório.” O amor não é um mandamento: é um ideal (“o ideal da santidade” diz Kant). Mas esse ideal nos guia, e nos ilumina. Não nascemos virtuosos, mas nos tornamos. Como? Pela educação: pela polidez, pela moral, pelo amor. A polidez, como vimos, é um simulacro de moral: agir polidamente é agir como se fôssemos virtuosos. Pelo que a moral começa, no ponto mais baixo, imitando essa virtude que lhe falta e de que no entanto, pela educação, ele se aproxima e nos aproxima. A polidez, numa vida bem conduzida, tem por isso cada vez menos importância, ao passo que a moral tem cada vez mais. É o que os adolescentes descobrem e nos fazem lembrar. Mas isso é apenas o início de um processo, que não poderia deter-se aí. A moral, do mesmo modo, é um simulacro de amor: agir moralmente é agir como se amássemos. Pelo que a moral advém e continua, imitando esse amor que lhe falta, que nos falta, e de que no entanto, pelo hábito, pela interiorização, pela sublimação, ela também se aproxima e nos aproxima, a ponto às vezes de se abolir nesse amor que a atrai, que a justifica e a dissolve. Agir bem é, antes de tudo, fazer o que se faz (polidez), depois o que se deve fazer (moral), enfim, às vezes, é fazer o que se quer, por pouco que se ame (ética). Como a moral liberta da polidez consumando-a (somente o homem virtuoso não precisa mais agir como se o fosse), o amor, que consuma por sua vez a moral, dela nos liberta: somente quem ama não precisa mais agir como se amasse. É o espírito dos Evangelhos (“Ama e faz o que quiseres”), pelo que Cristo nos liberta da Lei, explica Spinoza, não a abolindo, como queria estupidamente Nietzsche, mas consumando-a (“Não vim para revogar, vim para cumprir…”), isto é, comenta Spinoza, confirmando-a e inscrevendo-a para sempre “no fundo dos corações”. A moral é esse simulacro de amor, pelo qual o amor, que dela nos liberta, se torna possível. Ela nasce da polidez e tende ao amor; ela nos faz passar de uma a outro. É por isso que, mesmo austera, mesmo desagradável, nós a amamos. Além disso cumpre amar o amor? Sem dúvida, mas nós de fato o amamos (pois amamos pelo menos ser amados), ou a moral nada poderia por quem não o amasse. Sem esse amor ao amor estaríamos perdidos, e é essa talvez a verdadeira definição do inferno, quero dizer da danação, da perdição, aqui e agora. Cumpre amar o amor ou não amar nada, amar o amor ou se perder. De outro modo, que coerção poderia haver? Que moral? Que ética? Sem o amor, o que restaria de nossas virtudes? E que valeriam elas se não as amássemos? Pascal, Hume e Bergson são mais esclarecedores aqui do que Kant: a moral vem mais do sentimento do que da lógica, mais do coração do que da razão, e a própria razão só comanda (pela universalidade) ou só serve (pela prudência) tanto quanto o desejarmos. Kant é engraçado quando pretende combater o egoísmo ou a crueldade com o princípio da não-contradição! Como se aquele que não hesita em mentir, em matar, em torturar, fosse preocupar-se com que a máxima de sua ação pudesse ou não ser erigida, sem contradição, em lei universal! Que lhe importa a contradição? Que lhe importa o universal? Só precisamos de moral em falta de amor. Mas só somos capazes de moral, e só sentimos essa necessidade, pelo pouco de amor, ainda que a nós mesmos, que nos foi dado, que soubemos conservar, sonhar ou reencontrar… O amor é portanto primeiro, não em absoluto, sem dúvida (pois então seria Deus), mas em relação à moral, ao dever, à Lei. É o alfa e o ômega de toda virtude. Primeiro a mãe e seu filho. Primeiro o calor dos corpos e dos corações. Primeiro a fome e o leite. Primeiro o desejo, primeiro o prazer. Primeiro a carícia que aplaca, primeiro o gesto que protege ou alimenta, primeiro a voz que tranqüiliza, primeiro esta evidência: uma mãe que amamenta; depois esta surpresa: um homem sem violência, que vela uma criança adormecida. Se o amor não fosse anterior à moral, o que saberíamos da moral? E o que ela nos tem a propor de melhor que o amor do qual ela vem, que lhe falta, que a move, que a atrai? O que a torna possível é também aquilo mesmo a que ela tende, e que a liberta. Círculo? Se quisermos, mas não vicioso, pois evidentemente não é o mesmo amor no princípio e no fim. Um é a condição da Lei, sua fonte, sua origem. O outro seria antes seu efeito, sua superação e seu mais belo êxito. É o alfa e o ômega das virtudes, dizia eu, em outras palavras, duas letras diferentes, dois amores diferentes (pelo menos dois!), e, de um ao outro, todo o alfabeto de viver… Círculo, pois, mas virtuoso, pelo que a virtude se torna possível. Não se sai do amor, já que não se sai do desejo. Mas o desejo muda de objeto, se não de natureza, mas o amor se transforma e nos transforma. Isso justifica que, antes de falar de virtude propriamente, tomemos um certo recuo."
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