política (8)

PAPAYANOQUIEROSERPAPAYA (análise por Paola Vásquez)

INTRODUÇÃO

O grupo Cortocinesis se formou em 2002, na cidade de Bogotá (Colômbia) sob a direção de Vladimir Ilich Rodríguez. Tem o interesse específico de descobrir e desenvolver uma proposta coreográfica e estilística de dança contemporânea, fundamentada no conhecimento de seus integrantes com intenção de explorar campos da criação e interpretação do movimento, acessíveis tanto para o executante como para o espectador. A companhia considera a coreografia como espaço de investigação, a dança como algo que promove a singularidade corporal e o palco como uma zona de trânsito para a construção do ofício do dançarino.

Papayanoquieroserpapaya é ganhadora do Prêmio Nacional de Dança do Ministério da Cultura 2010. Nesse mesmo ano participou da Feira Internacional do livro em Quito-Equador. Durante 2009 foi convidada da Rede de Festivales del Nor-Este de México, dentre eles o Festival Internacional José Limón. Em 2009, também, participou do Festival Impulsos e foi ganhadora do Festival de Danza Contemporánea de Bogotáe e em 2008, foi ganhadora da Beca de Creación da Orquesta Filarmónica de Bogotá.

O ESPETÁCULO

O espetáculo é dividido em duas partes, na qual foi possível assistir presencialmente a primeira no Teatro Vila Velha durante VIVADANÇA Festival Internacional e a segunda através do registro videográfico exibido em sala de aula. A obra Papayanoquieroserpapaya propõe ao espectador um exercício de reflexão sobre os estereótipos de ser colombiano e latino-americano revelando a possibilidade de fazer da dança um exercício político através de uma expressão própria, sem cair no romantismo ou na exacerbação de valores.

O espetáculo faz um passeio por ambientes socio-culturais representativos tais como o futebol, os fenômenos como o sequestro e a violência, as dificuldades para conseguir passaportes e o narcotráfico que configuram o panorama cultural da Colômbia e da América Latina como um todo. Assim, o grupo Cortocinesis toma esses temas e transforma-os em imagem, sem juízos de valor, porém vai mostrando as contradições e ambiguidades e desmistifica os clichês do orgulho nacionalista.


12249208492?profile=originalO grupo entra em cena com meia luz, roupas em tons escuros e em um pano de fundo sonoro instrumental que em alguns momentos lembra um apito. A imagem passa a ideia de sobriedade e é uma espécie de introdução ou prólogo do espetáculo. Nesta parte, os movimentos e os deslocamentos do grupo são estruturados dentro dos padrões cênico da dança contemporânea. Contrastando com todo o resto do espetáculo, esse momento talvez seja o primeiro dos muitos clichês que o grupo utiliza como estratégia de ridicularização dos estereótipos.

O interesse criativo e a atenção do espectador se concentra mais no segundo momento. Inesperadamente, a cena anterior se desfaz dando espaço às inúmeras referências com as bolas que entram e saem do palco. Acentuando o contraste entre as duas cenas, começa uma paródia da cultura do futebol que, com um humor ácido, revela as imagens de comportamento social em torno desse esporte mundial.


“O mundo unido por uma bola”. Este foi o slogan da Copa do Mundo de 1986, que foi inserido noinconsciente coletivo de uma geração. É a essa geração que pertencem os membros do Cortocinesis que agora procuram brincar e criticar os velhos valores da identidade latino-americana. Sem dúvida, a bola é o símbolo mais reconhecido de penetração massiva do continente e do mundo, assim, um dos melhores acertos do grupo colombiano foi torná-la fio condutor da inteligente crítica social apresentada. Há dois times rivais, no qual um representa a equipe estrangeira (uniforme branco) e o outro a equipe nacional (uniforme laranja). A primeira carrega um discurso “modelo”, “ideal” que serve de referência para o outro time. Nesse sentido, é possível afirmar que essa equipe representa a fala do colonizador que é criticada com movimentos caricaturais do balé clássico e com fundo musical, também clássico. Já o time laranja representa o colonizado que não usa técnicas para jogar (idéia de que o futebol “corre nas veias” dos latino-americanos) mas que se esforça ao máximo para aprender algum truque com a equipe branca. Assim, o grupo Cortocineses consegue com um recurso cênico simples, mover todo um universo de significados, referências e identidades.


A partir daí, a comicidade dá lugar a um espaço mais tenso identificado pela música destoante e pouca luz no palco. O tema da violência é abordado claramente quando um integrante envolve a cabeça com uma camisa e amarra a dançarina. Começa então uma espécie de duelo entre os dois personagens onde, no fim, a dançarina “mata” o opressor. A primeira parte do espetáculo apresenta ainda a ideia da mulher como objeto sexual e o exacerbado “amor pelo futebol” do latino-americano.


A segunda parte da obra usa referências mais teatrais como a fala, a conversa com o público, e a pantomima. Os bailarinos ganham mais peso cênico e o contacto diminui. O cenário é composto por seis cadeiras representando a sala de uma espera da embaixada. Nesse momento, a fila de solicitantes de visto, seu arquivos e documentos diante das exigências diplomáticas, a interação de cada dançarino com seus papeis, a atuação individual e a imagem coletiva da massa afligida, diminuída, são elementos que recriam ocasiões infelizes da vida urbana que a maioria das pessoas conhece e participa.

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O grupo enfoca ainda com seu ácido humor e sarcasmo a corrupção política ao ressaltar que é mais fácil conseguir cocaína do que um visto para ingressar em outro país. Um dançarino simula o ato de esvaziar a cocaína do pacote que continha seus documentos e com esse motivo, o espetáculo chega ao ponto ápice de uma cena onde todos os elementos se alinham a favor do êxtase visual: o grupo cai, pula e gira em cima do pó criando uma nuvem de branca ao redor dos bailarinos. O emprego desse pó fez com que cada movimento do 'contact' tomasse força e produzisse o momento mais poético da coreografia. É possível afirmar que, enquanto o grupo dança sobre o que está ali representado como a cocaína, vai deixando como rastro a crítica social e escancara as contradições do sistema e da sociedade.


Com a cocaína, assim como com uma bola de futebol, com as trapaças e a voz enganadora do consulado, os elementos polivalentes enfocam a leitura de uma nacionalidade que vai desde uma visão autocrítica, intimista, até lúdica na qual, o Cortocinesis revela a identidade de um país. Essa identidade possui diversas faces que no caso do espetáculo é mostrado como raiva, como denúncia e como grito. Papáyanoquieroserpapaya é uma obra de dança contemporânea que, como um espelho, nos conduz as coloridas situações do cotidiano que representam o contexto de nosso país, a contradição entre o cômico e o trágico.


A sensação que fica logo a seguir do espetáculo é o questionamento sobre o que fazer depois que foram apontados os problemas socios-políticos. Em Papayanoquieroserpapaya, o grupo promove um exercício de resposta às perguntas sobre identidade, partindo do ponto de vista de como o latino-americano observa o contexto a que pertence. O título da obra faz referência ao termo “papaya” que entre os colombianos pode ser tanto à vítima quanto ao agressor e a coreografia propõe que a vida é mais que uma cadeia de oportunismos reiterando que não estamos fadados a repetir estigmas. Entretanto, será que nós brasileiros, já tão acostumados a satirizar nossos problemas, conseguimos nos reconhecer como “papayas”, ao mesmo tempo agressor e vítima da própria agressão herdada do nosso processo de colonização? Será mesmo que já não queremos ser papayas?


FICHA TÉCNICA DE PAPAYANOQUIEROSERPAPAYA

Direção geral Cortocinesis: Angela Bello y Vladimir Ilich Rodríguez

Direção e coreografía : Vladimir Ilich Rodríguez

Dramaturgia: Johan Velandia

Intérpretes: Angela Bello, Olga Cruz, Luisa Camacho, Edwin Vargas, Yovanny Martinez, Julián Garcés

Diretor Técnico e Iluminação: Humberto Hernández.

Assistente Geral: Gladis Clavijo

Figurino: Laura Alba

Publicidade: Juan Carlos Chaparro y Felipe Chaparro

REFERÊNCIAS:
CORTOCINESIS. Click iAfecta tu Mundo!. Entrevista. Disponível em: <http://www.clickafectatumundo.com/index.php?option=com_content&view=article&id=206:papa-ya-no-quiero-ser-papaya&catid=48:fines-y-medios&Itemid=82>; Disponível em: 20 jun. 2011.

CORTOCINESIS. Papayanoquieroserpapaya. In: VIVADANÇA Festival Internacional Ano 5. Teatro Vila Velha. Salvador, 27 abr.

IZAGUIRRE, Juan. La Papaya con Conflicto de Identidad. Disponível em: <http://www.danzaballet.com/modules.php?name=News&file=article&sid=2916>;. Acesso em: 20 jun. 2011.

MARQUEZ, Carlos. Cortocinesis Pone Identidad Latinoamericana al Ridículo de su Ficción Totémica. Disponível em: <http://www.lajornadamichoacan.com.mx/2009/04/27/index.php?section=cultura&article=016n2cul>;. Acesso em: 20 jun. 2011.

MATOS, Lucia. Ninguém quer ser papaya. Disponível em: <http://www.teatrovilavelha.com.br/festivalvivadanca5/pt/observatorio/174-ninguem-quer-ser-papaya.html>;. Acesso em 20 jun. 2011.

PAPAYANOQUIEROSERPAPAYA. Produção: Companhia de Dança Cortocinesis. Direção e coreografía: Vladimir Ilich Rodríguez. Dramaturgia: Johan Velandia. Intérpretes:Angela Bello, Olga Cruz, Luisa Camacho, Edwin Vargas, Yovanny Martinez, Julián Garcés. 1DVD (40 min), widescreen, son., color.

PROYECTO MEXICO CURVAS. Projeto. Disponível em: <http://www.google.com.bo/url?sa=t&source=web&cd=1&ved=0CBcQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.filarmonicabogota.gov.co%2Fsecciones%2Fdanza%2Fimagenes_danza%2Fpapaya.pdf&rct=j&q=proyecto%20mexico%20curvas&ei=0Pn-Tf_XEMPTgAfJ5s3rCg&usg=AFQjCNGvbRmMt46BZNJTHvDdJw-C0zFSJw&cad=rja>;. Acesso em: 20 jun. 2011.

SOTERÓPOLIS. Cia Colombiana Cortocinesis Explora Problemas Cotidianos em Espetáculo de Dança. Disponível em: <http://www.irdeb.ba.gov.br/soteropolis/?p=4760>;. Acesso em: 20 jun. 2011.

SOUTO, Evie. Blog Danças Sociais a Dois. Disponível em: <http://eviesoutodanca.blogspot.com/2011_05_01_archive.html>;. Acesso em: 20 jun. 2011.

VIVA DANÇA FESTIVAL INTERNACIONAL. Papayanoquieroserpapaya y Paso a Peso. Disponível em: <http://www.teatrovilavelha.com.br/festivalvivadanca5/es/programacao/espetaculos/5o-semana/103-papayanoquieroserpapaya-e-paso-a-peso.html>;. Acesso em: 20 jun. 2011.

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com.posições.políticas . Encontro Ibero-Americano . De 14 a 17 de novembro 2011.

Armazém da Utopia, Rio de Janeiro

                                                        [ www.cpp.panoramafestival.com ]


El cuerpo territorio de lo político: cuerpo disidente, híbrido, trágico, TRANStornado. Cuerpo batalla. Cuerpo ciudad. Cuerpo colectivo. Cuerpo que explora otros territorios posibles de sexualidad, subjetividad, placeres y afectos. Cuerpo copia. Cuerpo sur. Cuerpo que CAUSA.

Con cuatro días de debates, conversas coreopolíticas y performances en torno del cuerpo político, el com.posiciones.políticas ofrece entre los días 14 y 17 de noviembre un espacio de contaminación entre el arte y el activismo y de encuentros sur-sur.

El Encuentro es parte de las actividades que el com.posiciones.políticas realiza dentro de la programación de Panorama – del 4 al 20 de noviembre -, y que incluyen además de un ciclo de , cuatro talleres, un laboratorio de creación en colaboración, el espacio de documentación Corpo-Cópia, y una programación de danza, cabaret, música y performances en la zona portuaria de Río de Janeiro y otros espacios de la ciudad.

A cada edición, el Panorama busca otras maneras de tornar el festival parte integrante de la sociedad en que vivimos y de activar la mirada crítica ante las formas establecidas de relacionarnos con el arte, la ciudad, y el medio social. El nombre com.posiciones.políticas nace de la voluntad de evidenciar la importancia del posicionamiento político y de la constatación de que, también a través de las prácticas artísticas, podemos construir nuestra propio espacio de acción política aquí y ahora, de manera individual o colectiva.

Lanzado en 2010 el com.posiciones.políticas cuenta con el apoyo de la AECID – Agencia Española de Cooperación al Desarrollo y el Programa IBERESCENA, y la colaboración del Centro Cultural de España en São Paulo, Instituto Cervantes de Rio, Instituto Francés, Consulado General de Francia en Río de Janeiro, Instituto Ramón Llull y la Coordinación de Danza de México.

Cuándo: Del 14 al 17 de noviembre
Horarios: Días 14 y 15, de las 15h a las 18h30. Días 16 y 17, de las 14h a las 18h30.
Dónde: Armazém da Utopia. Cais do Porto - Armazém 6, Av. Rodrigues Alves, s/n – Centro – Río de Janeiro.
Cuánto: Gratis. Nº de lugares: limitado, procure reservar lugar.
Plazo de inscripción: hasta 5 de noviembre. Contacto : cpp@panoramafestival.com
Datos para inscripción: Envíe por favor nombre completo, profesión, edad y ciudad de residencia.

Email contato: oficinas@panoramafestival.com

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SIETE MITOS FLOTANTES

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Sobre ciertos significantes universales, se construyen los mitos en la actualidad. Sobre significantes, por una parte vacíos, como democracia, populismo, identidad nacional, libertad de expresión, seguridad ciudadana, lucha antiterrorista, calentamiento global; en los que “la universalidad habla por sí misma.”Pero por otra, son “significantes flotantes” (Laclau), cuyo significado se reconfigura de acuerdo con la necesidad del discurso dominante. Significantes que evocan una plenitud ausente de la sociedad, apelan a una ética universal. Y se configuran con exceso de sentido dentro de los discursos hegemónicos. Estos significantes vacíos en constante resignificación, son los que siguen guiando las luchas políticas dominantes. Son los pilares vacíos sobre los que se fundan los nuevos mitos. Mitos que justifican la arbitrariedad de las relaciones de poder, así como la relaciones interpersonales dentro de una normativa policial. 

En esta ocasión trataré La Democracia como la falacia ritualizada que se configura como un verdadero totalitarismo que regula nuestra existencia, a partir de lo que el 51% de la población elige, por sobre el 49%; pues la mayoría no son todos. La democracia representativa, consiste en que el pueblo, el demos, cree elegir a quienes quiere como sus representantes para cumplir y hacer cumplir las normas jurídicas de la santa constitución. Pero en realidad elige a quienes le dicen que debe querer, elige a quienes ostentan el discurso propagado por los medios masivos de comunicación. Bajo el nombre de la democracia, se han instaurado políticas invasionistas en Latinamoérica, Asia y Africa, ahora mismo. Y bajo su bandera se instaura la hipocrecía internacional. 

Realizaré un performance duracional, es decir, de un tiempo limitado por la experiencia (2 o 3 horas). En el que voy a estar pegada a una pared con todo mi cuerpo cubierto de cinta de embalaje blanca. Solo me quedaré con la boca abierta de la cual emerge un grito mudo. 

Esta pantalla creada por la cinta blanca sobre mi persona o varias más, servirá de lugar de proyección de un video de alrededor de 5 minutos, aproximadamente. Este video recogerá y trabajará una serie de hitos que forman parte de los discursos flotantes que operan en la manipulación de la palabra democracia. La investigación, realizada en conjunto con Isabel González y Liberta Gills, será a nivel global, otras a nivel nacional, indistintamente; aprovechando de las coyunturas políticas de la actualidad. La información visual será recogida del Internet, será infomación pública de canales del YouTube, Wikileaks, noticieros y propagandas.

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Seminário Cruzamentos Contemporâneos entre Arte e Política

Para ver programação em português INFO_POR.pdf
Para ver programación en español INFO_ESP.pdf
Visite www.cpp.panoramafestival.com


De 12 a 15 de novembro, de sexta à segunda-feira (feriado), vamos falar de política. O com.posições.políticas abre um espaço para a troca de
informações e experiências sobre as diversas interseções contemporâneas
entre arte e política através de um passeio panorâmico pelas seguintes
questões: o que significa hoje realizar arte política; o desafio de
politizar o corpo que dança; o impacto do movimiento queer nas práticas
cênicas contemporâneas e as diversas articulações entre arte e ativismo.


Com.posições.políticas 2010 se completa com a programação artística especial que o Festival Panorama reservou para as datas do seminário que incluem discussões com
os artistas sobre os espetáculos e a oficina What am I not allowed to
do?, do artista e ativista esloveno Janez Jansa, que acontecerá de 16 a
20 de novembro
http://panoramafestival.com/?p=4610


A Associação Cultural Panorama celebra os 20 anos do Festival Panorama em 2011 lançando o programa Com.posições.políticas que inclui, além do seminário, residências
artísticas (no segundo semestre de 2011) e um Encontro Ibero-americano
(novembro de 2011).



Com.posições.políticas conta com o apoio da Agência Espanhola de Cooperação Internacional al Desarrollo y la colaboración del Instituto Cervantes de Rio de Janeiro y REDES da Maré.

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O corpo político de Micheline Torres

Em época de bienal sobre arte e política, pareceu-me oportuna e irônica a promessa trazida no título do solo de dança de Micheline Torres, "Eu prometo, isto é político". Para mim, estava sendo contestada a eficácia de uma arte contemporânea de pretenso engajamento político, que não é capaz de escapar do beco sem saída produzido pela lógica de um mercado que a tudo engole. Nos tempos atuais, as subversões e as críticas são constantemente incorporadas pelas próprias engenharias que pretendem questionar. Vejamos, por exemplo, o retorno dos pichadores – criminalizados por sua ação em 2008 – à bienal, desta vez como legítimos convidados e aclamados como aqueles que verdadeiramente borram as fronteiras entre a arte e a política.

Á revelia da minha prévia concepção sobre os motivos da obra, ficou claro, com poucos minutos de apresentação, que a hipótese da ironia não dava conta do título do solo de Micheline. Havia uma provocação: importava menos se a arte contemporânea é ou não capaz de ser política e mais os múltiplos sentidos que esta palavra pode assumir, bem como atuar e manifestar-se no corpo. Assim, em primeiro lugar, apareceu a marca. Ela não estava ali por acaso, já indicava o estatuto deste corpo em constante tensão entre o emblema que é taxado sobre a pele - como em um animal, de acordo com a própria artista - e a liberdade de escolhas permanentemente moduladas por valores proclamados nos discursos destas mesmas marcas.

O consumo foi a tônica em algumas cenas, mas também os festejos e os esportes. Em todas as situações, sobressaía o corpo tensionado entre forças que pareciam antagônicas e que, no entanto, contribuíam mutuamente naquela construção. As sedutoras cores do consumo e o aprisionamento a um ideal de beleza, a luta incansável pela vitória e o total desfalecimento, a alegria das festividades e a insensatez daqueles movimentos continuamente repetidos, tudo culminava, em algum momento, em gestos de comemoração e agradecimento. As mãos cerradas e os braços estendidos para o alto, ou abertos como se estivessem recebendo uma benção, deixavam uma pergunta: o que é celebrado?

Havia, também, a máscara. O corpo evidenciado em toda sua potência expressiva deixava claro onde podemos localizar, para a artista, a política. “Meu corpo é minha política”, ela diz, e, agora, eu me pego sendo muito restritiva nas minhas conclusões a respeito deste espetáculo, porque estou focada naquilo que vi na cena e, na verdade, o processo de criação tem um papel fundamental naquela provocação proposta por Micheline. Os múltiplos sentidos de política interagem no campo das contribuições fomentadas pela bailarina em suas andanças pelo mundo, nos encontros com as pessoas e as cidades, e vão acabar por se aglutinar em seu corpo, em resultados diversos a cada momento. A máscara confirma esta perspectiva, cada vez mais comum na dança contemporânea, de que não há nada por trás daquilo que se vê, pois está tudo manifestado na visibilidade do corpo e de seus gestos. Se há uma singularidade neste trabalho, ela é resultado dos trânsitos, das conversas, dos afetos, do olhar para o lado, do descentralizar, que faz, como a própria artista diz, com que cada colaborador chegue a seu próprio lugar. A política, portanto, não está em um espaço para além de nossas cabeças, mas no corpo que participa dos espaços por onde transita.
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Para Pensarmos!

São realmente notáveis as “ações Petrobras\MINC”. Tem-se a impressão que o Brasil entrou numa nova hera Gustavo Capanema (1900-1985) (Ministro da Cultura do governo Getúlio Vargas). A hera Capanema diz respeito ao momento em que o Brasil experimentou uma tomada do desenvolvimento tendo a arte como Carro Chefe. Na gestão de Capanema Portinari e Vila Lobos fizeram careiras internacionais, a Biblioteca Nacional, fundada por D. João VI, foi restaurada e suas atividades foram dinamizadas, foram criados diversos museus em diferentes regiões do país, havia um plano nacional para o teatro e para dança, em fim neste período o Brasil viveu a experiência real de uma política pública para arte. Na fase atual da ação do governo sobre a cultura o mérito dos projetos é inquestionável! Investir na cultura indígena como está fazendo a ação Prêmio Culturas Indígenas é super importante, talvez o mesmo investimento (R$ 2. 300.000,00), ou mais que isso deveria ser investido para que os povos indígenas tivessem seus territórios respeitados. O Prêmio Cultura Viva (R$ 2.500.000,00) apóia a “diversidade de iniciativas culturais”. São iniciativas sem apoio, pouco conhecidas do grande público, porém com grade valor social. Essa iniciativa realmente tem meu louvor. A preservação da cinematografia brasileira através do Programa Restaurando Filmes (R$ 3.500.000,00) tem mérito inquestionável. O incentivo a produção de imagens de um Brasil bucólico, em cidades que tenham menos de 20 mil habitantes, através do Projeto Revelando Os Brasis (R$ 2.108.462,00) desse eu tenho dúvidas! Não do mérito da proposta, mas da prioridade, uma vez que em grande parte dessas cidades as condições básicas de vida (saúde, moradia e educação) são inexistentes. A pessoa idosa realmente precisa de espaço, respeito e dedicação e os R$ 993.750,00, vindos da Petrobras pelos canos do Ministério da Cultura, podem iniciar uma mudança dessa realidade. Incentivar os negócios da música com R$ 2.400.000,00 eu acho super bacana. A criação de um centro de conservação do livro e do papel com R$ 5.000.000,00 na USP é honestamente admirável. Investir R$ 1.576.800,00 no design o brasileiro para ornar as repartições públicas segue bem a linha Capanema, haja vista o prédio com arquitetura revolucionária concebido por Lúcio Costa, Niemeyer, coberto por tapetes Burle Marx etc. A radiofonia (R$ 974.000,00), um portal para as artes na internet (R$ 1.000.000,00), a revista de história da biblioteca nacional (R$ 1.500.000,00) o cinema legendado para surdos (R$ 450.000,00), arte para deficiente (R$ 576.960,00), a disseminação do conhecimento arqueológico (R$ 2.500.000,00) me parecem coisas de primeiro mundo. Mas uma observação eu não posso deixar de fazer, não há nem um projeto na área de conservação e memória das casas centenárias de espetáculo existentes espalhadas pelo todo Brasil. Ou mesmo sobre a memória e divulgação de figuras ilustres do teatro e da dança brasileira, muito deles, por ser uma categoria de trabalhadores especial, e por esse motivo não tem aposentadoria nem seguro desemprego muitos vivem hoje como indigentes, apesar de terem serem verdadeiros patrimônios culturais. A música aparenta ser um bom negócio e uma feira só vai potencializar as suas diferentes transações. O teatro e a dança se refletem nas ações Petrobras\MINC como péssimos negócios, nem uma ação direta para a área foi pensada. Do total de R$ 26,3 milhões que envolvem a totalidade de investimento nem um centavinho vai para programas que tenha o teatro e a dança como centrais. As cênicas devem ter ficado obsoletas, devem ser hoje coisa do tempo do Capanema. A categoria lamenta o desrespeito. Paulo Paixão.
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Outras Danças

Com Ernesto Gadelha e Alexandre Molina após do convite da FUNARTE pensamos e organizamos "Outras Danças": um festival de dança entre França e Brasil que coloca questões sobre globalização da estética na dança contemporanea. No evento vai ter apresentações, encontros de críticos francese e brasileiros sobre as apresentações, um seminario sobre o assunto e dois livros vão ser publicados nos dois idiomas.Viajando muito entre os dois países a gente se deu conta de de uma sota de contaminação dos códigos franceses de dança contemporânea. E uma pergunta surgiu : serà que esse fato vai diminuir as diferencias? Levy-Strausss sempre falou que a diferencia é a base da construção da identidade. Vamos indo na direcção de um mundo monocromático e com estéticas pasteurizadas? As instituições internacionais que apoiam os artistas para difundir as criações estão criando conscientemente ou inconscientemente uma estética dominante? Tem como evitar isso? Esperamos que esse festival, o seminário, os encontros críticos as residências cruzadas serão uma boa ocasião para trocar ideias sobre esses assuntos.---------------------------------------------------With Ernesto Gadelha and Alexandre Molina after invitation of FUNARTE I conceived and organized "Outras danças": a dance festival between france and Brazil that questions the globalization of aesthetics in contemporary dance. There will be a small dance festival a critic's confrontation over the pieces shown, a symposium, french and brazilian crossed residencies and proceedings of the symposium published in french and portuguese.Travelling often between France and other countries we have witnessed a sort of contamination of french codes. And the question was: isn't that diminishing the differencies? Levy-Strauss always sais that difference are the basis of identity construction. So, are we losing differences? Are we going towards a monochrome world, a monochrome dance? Are the international institutions that help artist to travel creating consciously or unconsciously a "dominant aesthetics"? Is there a way to avoid this? We hope that the festival, the symposium, the residencies and the critic's confrontation will be a good way to discuss and exchange ideas on those topics.Hope you can go.
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CARTA ABERTA AO GOVERNADOR ROBERTO REQUIÃO

Ola todos,Por favor, leiam atentamente a carta produzida por artistas paranaenses de todas as áreas disponível no link abaixo.É muito importante para o Paraná que todos que concordem com as questões apontadas na carta se manifestem assinando o abaixo assinado que está disponível no site:http://www.antropofocus.com.br/abaixoassinado.phpNeste link você pode encontrar a carta na integra.Aqui vai um pequeno resumo:"Nós artistas, produtores e comunidade, certos da importância para toda a sociedade das manifestações artísticas e culturais, vimos através desta, manifestar nossa insatisfação em relação à ausência de políticas públicas levadas a cabo nos últimos seis anos através da Secretaria de Estado da Cultura para os diversos seguimentos artísticos, bem como nossas preocupações quanto às diretrizes para os anos remanescentes desse governo. Como artistas e cidadãos, exigimos que o senhor Roberto Requião, Governador do Estado do Paraná, assuma uma atitude objetiva de promoção e de implementação imediata de políticas públicas de cultura que contemplem a produção, a circulação, a formação e a pesquisa em arte através de leis e editais, bem como garanta a acessibilidade da arte paranaense ao maior número de pessoas. Com esse manifesto esperamos que esse governo entenda que a arte é um bem comum e que é função do Estado dar suporte para que a arte abra espaço na vida dos cidadãos e se faça presente como proposição de mundo. Nos colocamos a disposição para um diálogo aberto e franco com os administradores públicos estaduais."Fico muito agradecido pela atençao de todos,Neto Machado.
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